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Por Rafael Oliveira
O
Filme “O Velho – A História de Luis Carlos Prestes”, dirigido por Toni Venturi
e produzido em 1997, tem como objetivo demonstrar e humanizar a imagem de
Prestes. Para tanto o autor busca analisar sua vida desde o nascimento, em
1898, até sua morte em 1990, dando ênfase no caráter político de sua
trajetória.
Prestes,
aos seis anos de idade se mudou para o Rio de Janeiro, com sua mãe e irmãos.
Estudou no Colégio Militar, onde se formou como Major Aluno. Nesse período, a
história brasileira passava por momentos conturbados, com bastante crise
política. Havia um questionamento à República Oligárquica, que predominava no
país.
Na década de 1920, a
sociedade brasileira viveu um período de grande efervescência
e profundas transformações. Mergulhado numa crise cujos sintomas se
manifestaram nos mais variados planos o país experimentou uma fase de transição
cujas rupturas mais drásticas se concretizariam a partir do movimento de 1930.[1]
O ano de 1922 foi de bastante
efervescência política. É fundando, em março, o Partido Comunista Brasileiro.
Nesse mesmo ano eclode as rebeliões tenentistas, como por exemplo o levante do
Dezoito do Forte, buscando uma reforma na Constituição. Prestes não participou
desses levantes, pois estava internado com Tifo.[2]
Em 1924, eclodiria, em São Paulo,
outra ação tenentista para derrubada do governo de Arthur Bernardes. Em poucos
dias, os tenentes, liderados por Miguel Costa, tomaram a cidade. O governo
respondeu, e começou a bombardear a cidade. Os tenentes resistem por um tempo,
mas acabam saindo da cidade, marchando para o Oeste paranaense. Ao mesmo tempo,
Luis Carlos Prestes toma o quartel de São Ângelo, no Rio Grande do Sul, e
forma, como ficou conhecida, a Coluna da Esperança. Vitorioso no Sul, Prestes
se encontra com a Coluna de Miguel Costa no Paraná, e o convence a unir ambas
as colunas e continuarem na luta. Surge assim, a Coluna Prestes-Miguel Costa.
A Coluna percorre pelo interior do
país, até o ano de 1927, quando, os que restavam se refugiaram na Bolívia.
Marieta Ferreira nos diz que na historiografia existem três correntes
principais sobre o tenentismo: a primeira o explica como um movimento oriundo
da pequena burguesia representando os interesses desse grupo por uma maior
participação política; a segunda, surgida nas décadas de 1960-70, contesta a
questão da origem social e privilegia os aspectos institucionais do movimento,
vendo-o como um produto militar, com objetivo de defesa da corporação; a
terceira corrente defende uma ideia mais global, levando em conta, não apenas a
situação institucional dos tenentes, mas também suas origens e composições
sociais.[3]
Luis Carlos Prestes, em entrevista
apresentada no filme, nos informa que o objetivo da Coluna era a substituição
de Arthur Bernardes no poder, e que, a partir do conhecimento das questões
sociais e da miséria que abarcavam o interior do país, a visão dele sobre a
questão central do movimento começa a ser alterada. Em seu exílio na Bolívia,
Prestes recebe de presente de Astrojildo Pereira, diretor do Partido Comunista
Brasileiro, artigos de Lênin e o Manifesto Comunista. É nesse período que
Prestes se dedica ao estudo do marxismo.
Com a crise de 1929, a República
agonizava nas mãos de Washington Luís. É nesse contexto que Getúlio Vargas
oferece à Prestes o comando da Revolução de 30, mas eles não acabam chegando a
um acordo. Prestes, contrário a política de Vargas, escreve o Manifesto de
Maio, fazendo com que o PCB o acusasse de “pequeno burguês demais para se
preocupar com a causa proletária.”[4] Getúlio
Vargas, ao lado dos mais famosos tenentes que fizeram parte da Coluna Prestes,
consegue tomar o poder. Prestes é então exilado, e vai para Moscou em 1931.
Marly Vianna nos diz que
apesar de não terem
um programa de transformações sociais definidas, sendo suas propostas bastante
vagas e moralistas, os tenentes foram os representantes das necessidades de
mudança e democratização da vida política, expressando os anseios da maioria da
população brasileira. [5]
Na Rússia, Prestes se aproxima do
Partido Comunista Russo. Pretendendo voltar ao Brasil, Prestes faz vários
pedidos de filiação no PCB, tendo sua entrada negada todas as vezes. Apenas em
1934, através de ordem expressa da Internacional Comunista, Prestes tem seu
pedido aceito. Ele, então, retorna ao país, clandestinamente, e busca contato
com seus parceiros da Coluna pedindo para que se reorganizassem. Prestes estava
certo de que contava com o apoio Internacional para o levante comunista no
Brasil.
Em 1934, os tenentes se desiludem
com o governo de Getúlio. Surge então a Aliança Nacional Libertadora, um grupo
multifacetado, que tinha, como objetivo “defender a Liberdade e a Emancipação
Nacional e Social no Brasil”[6], e
como presidente de honra, Luis Carlos Prestes. Em 1935, o clima político se
encontrava conturbado no Rio Grande do Norte. Após a prisão de soldados do 21º
BC após um assalto a um bonde, os tenentes de Natal se rebelaram e tomaram, com
facilidade, o quartel.[7] Porém,
sem muito apoio do PCB, o levante em Natal foi bastante desorganizado. Marly
nos diz que “apesar da desorganização do movimento, Natal ficou quase quatro
dias nas mãos dos rebeldes.”[8] Em
Recife, também houve um levante tenentista, porém bastante reprimido pelo
governo.
A década de 30 foi marcada por
várias rebeliões de quartéis. Enquanto ocorriam os levantes no nordeste, a
direção do PCB e a IC desconheciam completamente o que ocorria. Quando as
notícias começavam a chegar ao Rio de Janeiro, os líderes dos levantes no
nordeste já estavam sendo presos. Mesmo assim Prestes decidiu pelo levante na
capital.
Marly nos diz que Prestes buscou
contato com a IC para comunicar que a decisão pelo levante fora tomada.[9] No
filme, o jornalista William Wack nos informa que Prestes, antes de decidir pelo
levante, pergunta a Moscou se poderia ir à luta. Moscou manda uma resposta
positiva, porém, quando a resposta chega, Prestes já havia tido que tomar a
decisão por conta própria, devido a situação em que se encontrava.[10] Prestes,
durante toda sua vida, afirmou que a decisão pelo levante foi dele.[11]
http://www.sitescorreio.com.br/blogs/wfarias/ wp-content/uploads/2013/01/Luiz-Carlos-Prestes1.png |
Vários comunistas são presos,
interrogados e torturados pelo governo. Um deles, Victor Barron, após várias
sessões de tortura, acaba falando o nome do bairro em que Prestes havia se
escondido com sua esposa, o Méier. Há uma busca da polícia durante 40 dias, de
casa em casa para encontrar Prestes.[14]
Eles são encontrados, Prestes é preso, e Olga é deportada para a Alemanha, onde
morre, em um campo de concentração, no ano de 1942.
É nesse contexto que há o levante do
movimento integralista no Brasil, liderado por Plínio Salgado. Os Camisa Verde
e Getúlio Vargas desejam destruir o PCB.[15]
Porém com a declaração do Estado Novo, os integralistas se sentem traídos por
Getúlio. A Ação Integralista Brasileira tinham como inspiração o movimento
fascista europeu, e seus militantes tinham como objetivo a adoção do regime no
país.[16] Em
1938, tentam tomar o poder, através de um golpe, mas acabam perdendo em poucas
horas.[17]
Embora o filme trate sobre a vida de
Prestes, ele dá uma breve “pincelada” no Estado Novo, período no qual Luis se
encontrava preso. O Estado novo é retratado como um período que ao mesmo tempo
em que afaga a população – através de benesses, leis trabalhistas, e ações
populistas –, a maltrata – através da censura implantada pelo DIP, do
autoritarismo e da forte repressão. No contexto internacional teve início, em
1939 a II Guerra Mundial. O Brasil só entra na guerra contra o Eixo em 1942,
defendendo a democracia, e apoiando os Aliados.
Com a vitória dos
Aliados foram postas em xeque as ditaduras e isso favoreceu os opositores de
Vargas. As contradições do Estado Novo, um regime internamente autoritário e
externamente favorável à democracia, tornaram-se explícitas e isto enfraqueceu
o prestígio do “ditador”, que passou a ser alvo de oposição mais sistemática.[18]
Com o fim do Estado Novo, em 1945,
Luis Carlos Prestes é anistiado, e, depois de anos, volta a viver em liberdade.
Embora o filme trate da vida de
Prestes até sua morte, cabe-nos aqui, analisar até o fim do Estado Novo.
Prestes sempre foi um homem de bastante influência política e querido por boa
parte da população. Embora, tenha sofrido resistência em sua entrada, Prestes
se torna Secretário Geral do PCB após sair da prisão. Podemos dizer que, embora
o filme analisado trate da vida de apenas um homem, concomitantemente, ele
analisa um dos períodos de maior efervescência política do país. Prestes pode
ter cometido vários erros, como afirmam alguns, ou muitos acertos, mas o que
não podemos negar é sua importância para a luta revolucionária no Brasil do
início do século XX, onde figura como um dos nomes mais importantes.
Referências Bibliográficas
FERREIRA, Marieta de M. e SÁ, Surama C.
“A crise dos anos 20”, in: FERREIRA,
Jorge e DELGADO, Lucília de Almeida Neves (orgs.). O Brasil republicano – o tempo do liberalismo excludente. Rio de
Janeiro: Civilização Brasileira, 2003. p. 387 – 415.
VIANNA, Marly de Almeida. O PCB, a ANL e
as insurreições de novembro de 1935. In: FERREIRA, Jorge e DELGADO, Lucília de
Almeida Neves (orgs.). O Brasil
republicano – o tempo do liberalismo excludente. Rio de Janeiro:
Civilização Brasileira, 2003. p. 63 – 105.
TRINDADE, Helgio. Integralismo: teoria e
práxis política nos anos 30. In: FAUSTO, Boris. História Geral da Civilização Brasileira. O Brasil Republicano. São
Paulo: FIFEL, 1984, t.III, v.3, p. 297 – 360.
CAPELATO, Maria Helena Rolim. “O Estado
Novo: o que trouxe de novo?”, In: FERREIRA, Jorge e DELGADO, Lucília de Almeida
Neves (orgs.). O Brasil republicano – o
tempo do liberalismo excludente. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira,
2003. p. 107 – 143.
Referência
Cinematográfica
O VELHO – A História de Luís Carlos
Prestes. Direção: Toni Venturi. Produção: Renato Bulcão e Toni Venturi. Rio de
Janeiro: Riofilmes, 1997. 1 videocassete (105 min).
[1] FERREIRA, Marieta de M. e SÁ,
Surama C. “A crise dos anos 20”, in:
FERREIRA, Jorge e DELGADO, Lucília de Almeida Neves (orgs.). O Brasil republicano – o tempo do
liberalismo excludente. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2003. p.
389
[2] O VELHO – A História de Luís Carlos Prestes. Direção: Toni Venturi. Produção: Renato Bulcão e Toni Venturi. Rio de Janeiro: Riofilmes, 1997. 1 videocassete (105 min).
[3] FERREIRA, op.cit. p. 401-402.
[4] O VELHO – A História de Luís Carlos Prestes. Direção: Toni Venturi. Produção: Renato Bulcão e Toni Venturi. Rio de Janeiro: Riofilmes, 1997. 1 videocassete (105 min).
[5] VIANNA, Marly de Almeida. O PCB,
a ANL e as insurreições de novembro de 1935. In: FERREIRA, Jorge e DELGADO,
Lucília de Almeida Neves (orgs.). O
Brasil republicano – o tempo do liberalismo excludente. Rio de Janeiro:
Civilização Brasileira, 2003. p. 66
[6] VIANNA, op. cit. p. 81.
[7] Idem, p. 88.
[8] Idem, p. 90.
[9] Idem, p. 94.
[10] O VELHO – A História de Luís Carlos Prestes. Direção: Toni Venturi. Produção: Renato Bulcão e Toni Venturi. Rio de Janeiro: Riofilmes, 1997. 1 videocassete (105 min).
[11] Idem
[12] Idem
[13] Idem
[14] Idem
[15] Idem
[16] TRINDADE, Helgio. Integralismo:
teoria e práxis política nos anos 30. In: FAUSTO, Boris. História Geral da Civilização Brasileira. O Brasil Republicano. São
Paulo: FIFEL, 1984, t.III, v.3, p.303.
[17] O VELHO – A História de Luís Carlos Prestes. Direção: Toni Venturi. Produção: Renato Bulcão e Toni Venturi. Rio de Janeiro: Riofilmes, 1997. 1 videocassete (105 min)..
[18]
CAPELATO, Maria Helena
Rolim. “O Estado Novo: o que trouxe de novo?”, In: FERREIRA, Jorge e DELGADO,
Lucília de Almeida Neves (orgs.). O Brasil
republicano – o tempo do liberalismo excludente. Rio de Janeiro:
Civilização Brasileira, 2003. p. 136.
quais foram as mudanças comportamentais das pessoas quanto a convivencia em comunidade e sociedade
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