segunda-feira, 30 de dezembro de 2013

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Por Rafael Oliveira

O Filme “O Velho – A História de Luis Carlos Prestes”, dirigido por Toni Venturi e produzido em 1997, tem como objetivo demonstrar e humanizar a imagem de Prestes. Para tanto o autor busca analisar sua vida desde o nascimento, em 1898, até sua morte em 1990, dando ênfase no caráter político de sua trajetória.
Prestes, aos seis anos de idade se mudou para o Rio de Janeiro, com sua mãe e irmãos. Estudou no Colégio Militar, onde se formou como Major Aluno. Nesse período, a história brasileira passava por momentos conturbados, com bastante crise política. Havia um questionamento à República Oligárquica, que predominava no país.

Na década de 1920, a sociedade brasileira viveu um período de grande efervescência e profundas transformações. Mergulhado numa crise cujos sintomas se manifestaram nos mais variados planos o país experimentou uma fase de transição cujas rupturas mais drásticas se concretizariam a partir do movimento de 1930.[1]

            O ano de 1922 foi de bastante efervescência política. É fundando, em março, o Partido Comunista Brasileiro. Nesse mesmo ano eclode as rebeliões tenentistas, como por exemplo o levante do Dezoito do Forte, buscando uma reforma na Constituição. Prestes não participou desses levantes, pois estava internado com Tifo.[2]
            Em 1924, eclodiria, em São Paulo, outra ação tenentista para derrubada do governo de Arthur Bernardes. Em poucos dias, os tenentes, liderados por Miguel Costa, tomaram a cidade. O governo respondeu, e começou a bombardear a cidade. Os tenentes resistem por um tempo, mas acabam saindo da cidade, marchando para o Oeste paranaense. Ao mesmo tempo, Luis Carlos Prestes toma o quartel de São Ângelo, no Rio Grande do Sul, e forma, como ficou conhecida, a Coluna da Esperança. Vitorioso no Sul, Prestes se encontra com a Coluna de Miguel Costa no Paraná, e o convence a unir ambas as colunas e continuarem na luta. Surge assim, a Coluna Prestes-Miguel Costa.
            A Coluna percorre pelo interior do país, até o ano de 1927, quando, os que restavam se refugiaram na Bolívia. Marieta Ferreira nos diz que na historiografia existem três correntes principais sobre o tenentismo: a primeira o explica como um movimento oriundo da pequena burguesia representando os interesses desse grupo por uma maior participação política; a segunda, surgida nas décadas de 1960-70, contesta a questão da origem social e privilegia os aspectos institucionais do movimento, vendo-o como um produto militar, com objetivo de defesa da corporação; a terceira corrente defende uma ideia mais global, levando em conta, não apenas a situação institucional dos tenentes, mas também suas origens e composições sociais.[3]
            Luis Carlos Prestes, em entrevista apresentada no filme, nos informa que o objetivo da Coluna era a substituição de Arthur Bernardes no poder, e que, a partir do conhecimento das questões sociais e da miséria que abarcavam o interior do país, a visão dele sobre a questão central do movimento começa a ser alterada. Em seu exílio na Bolívia, Prestes recebe de presente de Astrojildo Pereira, diretor do Partido Comunista Brasileiro, artigos de Lênin e o Manifesto Comunista. É nesse período que Prestes se dedica ao estudo do marxismo.
            Com a crise de 1929, a República agonizava nas mãos de Washington Luís. É nesse contexto que Getúlio Vargas oferece à Prestes o comando da Revolução de 30, mas eles não acabam chegando a um acordo. Prestes, contrário a política de Vargas, escreve o Manifesto de Maio, fazendo com que o PCB o acusasse de “pequeno burguês demais para se preocupar com a causa proletária.”[4] Getúlio Vargas, ao lado dos mais famosos tenentes que fizeram parte da Coluna Prestes, consegue tomar o poder. Prestes é então exilado, e vai para Moscou em 1931. Marly Vianna nos diz que

apesar de não terem um programa de transformações sociais definidas, sendo suas propostas bastante vagas e moralistas, os tenentes foram os representantes das necessidades de mudança e democratização da vida política, expressando os anseios da maioria da população brasileira. [5]

            Na Rússia, Prestes se aproxima do Partido Comunista Russo. Pretendendo voltar ao Brasil, Prestes faz vários pedidos de filiação no PCB, tendo sua entrada negada todas as vezes. Apenas em 1934, através de ordem expressa da Internacional Comunista, Prestes tem seu pedido aceito. Ele, então, retorna ao país, clandestinamente, e busca contato com seus parceiros da Coluna pedindo para que se reorganizassem. Prestes estava certo de que contava com o apoio Internacional para o levante comunista no Brasil.
            Em 1934, os tenentes se desiludem com o governo de Getúlio. Surge então a Aliança Nacional Libertadora, um grupo multifacetado, que tinha, como objetivo “defender a Liberdade e a Emancipação Nacional e Social no Brasil”[6], e como presidente de honra, Luis Carlos Prestes. Em 1935, o clima político se encontrava conturbado no Rio Grande do Norte. Após a prisão de soldados do 21º BC após um assalto a um bonde, os tenentes de Natal se rebelaram e tomaram, com facilidade, o quartel.[7] Porém, sem muito apoio do PCB, o levante em Natal foi bastante desorganizado. Marly nos diz que “apesar da desorganização do movimento, Natal ficou quase quatro dias nas mãos dos rebeldes.”[8] Em Recife, também houve um levante tenentista, porém bastante reprimido pelo governo.
            A década de 30 foi marcada por várias rebeliões de quartéis. Enquanto ocorriam os levantes no nordeste, a direção do PCB e a IC desconheciam completamente o que ocorria. Quando as notícias começavam a chegar ao Rio de Janeiro, os líderes dos levantes no nordeste já estavam sendo presos. Mesmo assim Prestes decidiu pelo levante na capital.
            Marly nos diz que Prestes buscou contato com a IC para comunicar que a decisão pelo levante fora tomada.[9] No filme, o jornalista William Wack nos informa que Prestes, antes de decidir pelo levante, pergunta a Moscou se poderia ir à luta. Moscou manda uma resposta positiva, porém, quando a resposta chega, Prestes já havia tido que tomar a decisão por conta própria, devido a situação em que se encontrava.[10] Prestes, durante toda sua vida, afirmou que a decisão pelo levante foi dele.[11]
         
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   O levante no Rio de Janeiro só teve fôlego nos quartéis da Praia Vermelha, porém os mesmos foram rapidamente silenciados. Não houve apoio popular, e isso facilitou o fracasso da revolta comunista brasileira.[12] Miranda, secretário do partido no Brasil leva a culpa pelo fracasso, embora Prestes, em várias entrevistas, se assumisse como responsável pela derrota.[13] Com a vitória do governo na Praia Vermelha em novembro de 35, tem início a campanha contra os comunistas.
            Vários comunistas são presos, interrogados e torturados pelo governo. Um deles, Victor Barron, após várias sessões de tortura, acaba falando o nome do bairro em que Prestes havia se escondido com sua esposa, o Méier. Há uma busca da polícia durante 40 dias, de casa em casa para encontrar Prestes.[14] Eles são encontrados, Prestes é preso, e Olga é deportada para a Alemanha, onde morre, em um campo de concentração, no ano de 1942.
            É nesse contexto que há o levante do movimento integralista no Brasil, liderado por Plínio Salgado. Os Camisa Verde e Getúlio Vargas desejam destruir o PCB.[15] Porém com a declaração do Estado Novo, os integralistas se sentem traídos por Getúlio. A Ação Integralista Brasileira tinham como inspiração o movimento fascista europeu, e seus militantes tinham como objetivo a adoção do regime no país.[16] Em 1938, tentam tomar o poder, através de um golpe, mas acabam perdendo em poucas horas.[17]
            Embora o filme trate sobre a vida de Prestes, ele dá uma breve “pincelada” no Estado Novo, período no qual Luis se encontrava preso. O Estado novo é retratado como um período que ao mesmo tempo em que afaga a população – através de benesses, leis trabalhistas, e ações populistas –, a maltrata – através da censura implantada pelo DIP, do autoritarismo e da forte repressão. No contexto internacional teve início, em 1939 a II Guerra Mundial. O Brasil só entra na guerra contra o Eixo em 1942, defendendo a democracia, e apoiando os Aliados.

Com a vitória dos Aliados foram postas em xeque as ditaduras e isso favoreceu os opositores de Vargas. As contradições do Estado Novo, um regime internamente autoritário e externamente favorável à democracia, tornaram-se explícitas e isto enfraqueceu o prestígio do “ditador”, que passou a ser alvo de oposição mais sistemática.[18]

            Com o fim do Estado Novo, em 1945, Luis Carlos Prestes é anistiado, e, depois de anos, volta a viver em liberdade.
            Embora o filme trate da vida de Prestes até sua morte, cabe-nos aqui, analisar até o fim do Estado Novo. Prestes sempre foi um homem de bastante influência política e querido por boa parte da população. Embora, tenha sofrido resistência em sua entrada, Prestes se torna Secretário Geral do PCB após sair da prisão. Podemos dizer que, embora o filme analisado trate da vida de apenas um homem, concomitantemente, ele analisa um dos períodos de maior efervescência política do país. Prestes pode ter cometido vários erros, como afirmam alguns, ou muitos acertos, mas o que não podemos negar é sua importância para a luta revolucionária no Brasil do início do século XX, onde figura como um dos nomes mais importantes.

Referências Bibliográficas
FERREIRA, Marieta de M. e SÁ, Surama C. “A crise dos anos 20”, in: FERREIRA, Jorge e DELGADO, Lucília de Almeida Neves (orgs.). O Brasil republicano – o tempo do liberalismo excludente. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2003. p. 387 – 415.
VIANNA, Marly de Almeida. O PCB, a ANL e as insurreições de novembro de 1935. In: FERREIRA, Jorge e DELGADO, Lucília de Almeida Neves (orgs.). O Brasil republicano – o tempo do liberalismo excludente. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2003. p. 63 – 105.
TRINDADE, Helgio. Integralismo: teoria e práxis política nos anos 30. In: FAUSTO, Boris. História Geral da Civilização Brasileira. O Brasil Republicano. São Paulo: FIFEL, 1984, t.III, v.3, p. 297 – 360.
CAPELATO, Maria Helena Rolim. “O Estado Novo: o que trouxe de novo?”, In: FERREIRA, Jorge e DELGADO, Lucília de Almeida Neves (orgs.). O Brasil republicano – o tempo do liberalismo excludente. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2003. p. 107 – 143.

Referência Cinematográfica
O VELHO – A História de Luís Carlos Prestes. Direção: Toni Venturi. Produção: Renato Bulcão e Toni Venturi. Rio de Janeiro: Riofilmes, 1997. 1 videocassete (105 min).




[1] FERREIRA, Marieta de M. e SÁ, Surama C. “A crise dos anos 20”, in: FERREIRA, Jorge e DELGADO, Lucília de Almeida Neves (orgs.). O Brasil republicano – o tempo do liberalismo excludente. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2003. p. 389
[2] O VELHO – A História de Luís Carlos Prestes. Direção: Toni Venturi. Produção: Renato Bulcão e Toni Venturi. Rio de Janeiro: Riofilmes, 1997. 1 videocassete (105 min).
[3] FERREIRA, op.cit. p. 401-402.
[4] O VELHO – A História de Luís Carlos Prestes. Direção: Toni Venturi. Produção: Renato Bulcão e Toni Venturi. Rio de Janeiro: Riofilmes, 1997. 1 videocassete (105 min).
[5] VIANNA, Marly de Almeida. O PCB, a ANL e as insurreições de novembro de 1935. In: FERREIRA, Jorge e DELGADO, Lucília de Almeida Neves (orgs.). O Brasil republicano – o tempo do liberalismo excludente. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2003. p. 66
[6] VIANNA, op. cit. p. 81.
[7] Idem, p. 88.
[8] Idem, p. 90.
[9] Idem, p. 94.
[10] O VELHO – A História de Luís Carlos Prestes. Direção: Toni Venturi. Produção: Renato Bulcão e Toni Venturi. Rio de Janeiro: Riofilmes, 1997. 1 videocassete (105 min).
[11] Idem
[12] Idem
[13] Idem
[14] Idem
[15] Idem
[16] TRINDADE, Helgio. Integralismo: teoria e práxis política nos anos 30. In: FAUSTO, Boris. História Geral da Civilização Brasileira. O Brasil Republicano. São Paulo: FIFEL, 1984, t.III, v.3, p.303.
[17] O VELHO – A História de Luís Carlos Prestes. Direção: Toni Venturi. Produção: Renato Bulcão e Toni Venturi. Rio de Janeiro: Riofilmes, 1997. 1 videocassete (105 min)..
[18] CAPELATO, Maria Helena Rolim. “O Estado Novo: o que trouxe de novo?”, In: FERREIRA, Jorge e DELGADO, Lucília de Almeida Neves (orgs.). O Brasil republicano – o tempo do liberalismo excludente. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2003. p. 136.

Um comentário:

  1. quais foram as mudanças comportamentais das pessoas quanto a convivencia em comunidade e sociedade

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