Por Vanir Junior
A obra de
Marc Bloch reflete bem o espírito da primeira fase da escola dos Annales. O
historiador afirma, semelhantemente a Febvre, o homem como objeto de estudo da
história. Assim, propõe uma abordagem da história não mais limitada por fatos e
documentos, datas e todo tipo de erudição documental positivista do século XIX.
Mas busca primordialmente a problematização e a construção do fato histórico,
em detrimento do estudo do passado apenas pelo passado.
O
historiador deve procurar significação e a ação do homem no contexto histórico
e no espaço-tempo, estabelecendo uma ponte do passado com o presente. Assim,
Bloch desconstrói a idéia de que a história é uma ciência do passado, mas diz
que, antes de qualquer coisa, ela é uma ciência dos homens no tempo. Ele expõe
a necessidade de uma história mais humanizada, de maneira a ser proposta a
interdisciplinaridade com as outras ciências humanas, algo que vai ser marcante
na primeira geração da Escola dos Annales e que seguirá como uma tendência do
movimento. Ou seja, Bloch busca a significação social dos acontecimentos.
Assim, há
o lançamento de uma crítica ao famoso “ídolo das origens”, prática muito comum
entre historiadores envoltos pelo aspecto positivista do século anterior. A
crítica é, ao mesmo tempo, uma resposta às ofensivas de Simiand. Bloch diz que a
obsessão do estudo das origens faz com que os historiadores acreditem saber
tudo somente pelo início dos acontecimentos, dando um aspecto de causalidade à
origem, como se ela fosse suficiente para explicar todo um fato histórico, e
diz que é neste pensamento que mora o perigo para os historiadores. As origens
são espécies de armadilhas e Bloch demoniza tal aspecto. Além disso, afirma
outro inimigo satânico da verdadeira história: a mania de julgamento. O
historiador deve compreender o fato e não julgá-lo.
Bloch diz
que o conhecimento das origens dos fenômenos não é suficiente para explicá-los.
Os fenômenos devem ser problematizados, como ele diz. “A questão, em suma, não
é mais saber se Jesus foi crucificado, depois ressuscitado. O que agora se
trata de compreender é como é possível que tantos homens ao nosso redor creiam
na crucificação e na ressurreição” (p.58).
Além
disso, o historiador critica a divisão que se faz entre passado e presente.
Bloch diz que há uma reciprocidade entre presente e passado (método regressivo). Um serve para
entender o outro. Não estão desvinculados. É neste sentido que a história não
deve ser entendida como ciência do passado. Para Bloch, é no jogo da importância
do presente para se compreender o passado e vice versa que se desenvolve a
ciência histórica.
Sobre a
observação histórica, Bloch fala que não somente de fontes escritas que se
estuda o passado, mas também a partir de testemunhos não escritos, na
impossibilidade de constatar certos fatos. Ainda vai mais fundo ao dizer que o
“historiador está na impossibilidade de ele próprio constatar os fatos” (p.69),
pois, nas eras que o precedem, muitas vezes, só restam testemunhas. Ou seja,
testemunhos não escritos. Sendo assim, o historiador deve se esforçar para
reconstruir aquilo que ele viu, de forma indireta. “Em suma, em contraste com o
conhecimento do presente, o do passado seria necessariamente ‘indireto’.”
(p.69). E mesmo assim, o olhar dessa testemunha sobre o ocorrido não é
suficiente para se compreender de forma totalmente exata algo do passado. É
necessário que o historiador se utilize de vários recursos além de também se
utilizar de outras disciplinas para interrogar os documentos. E, claro, neste processo, entra
também o olhar do próprio historiador como elemento que integra a construção do fato.
Há muitas
formas de se conhecer o passado, que Bloch diz ser imutável, mas, a forma como
o historiador o interpreta pode modificar a percepção desse passado, conforme
a visão do historiador. O conhecimento sobre o passado é um processo de
mutabilidade constante.
Ainda a
respeito das formas de se estudar o passado, o próprio Bloch, entretanto, relata a
importância de não haver uma generalização neste aspecto e afirma também que
nem sempre a observação do passado é indireta. Ha a possibilidade desta observação ser direta,
pois tudo aquilo que é produzido (escritos, objetos, vestígios em geral) também
pode ser avaliado e contribuirá para a geração de visões sobre o passado. Quer
dizer, a relação com o passado pode ser indireta, pois não é possível retomar
exatamente como foi o mesmo, e, ao mesmo tempo direta, pois há a utilização
de vestígios, que fornecem as mais variadas visões sobre o passado. De qualquer
forma, ambos os casos passam pelo crivo de construção do historiador.
Referências Bibliográficas:
BLOCH, Marc. Apologia da História ou o Ofício do Historiador. Jorge Zahar Editor: Rio de Janeiro, 2002
ótimo, contribuiu bastante para a construção do meu artigo. Muito obrigado
ResponderExcluirMuito bom!
ResponderExcluirLivro maravilhoso fundamental na minha formação como professor de história ! Indispensável.
ResponderExcluirEste livro é uma aula de história e de como se proceder na interpretação e compreensão de um fato histórico. Fiquei lisonjeado em ser um leitor desse livro. Onde está o botão para dar um joinha rsrs
ResponderExcluirEXCELENTE TEXTO, AINDA NÃO LI O LIVRO MAIS DEPOIS DESSE TEXTO ESTOU ANSIOSO PARA LER... PARABÉNS.
ResponderExcluirMuito bom!!
ResponderExcluirÓtimo
ExcluirEsta de parabens
ResponderExcluirMuito bom
ResponderExcluirÓtimo texto, serviu de incentivo para ler o livro por completo. Parabéns!
ResponderExcluirO texto é grande e tem outro melhor
ResponderExcluirMuito obrigada,faz muito sentido o passado e o presente uma depende da outra estudamos os acontecimentos passados porque existe o presente
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