Mostrando postagens com marcador Cabo Verde. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Cabo Verde. Mostrar todas as postagens

quinta-feira, 15 de dezembro de 2011


Por Marcelle Gilla Sestare

Primeiramente, é importante salientar que, o objetivo deste texto é trazer para discussão alguns aspectos referentes à luta pela independência de Cabo Verde frente a Portugal. Serão abordados três pontos em essencial: a criação do PAIGC, a ajuda dos países socialistas e os conflitos internos que levaram ao fim do regime monopartidário. Antes, faremos uma pequena introdução da história de Cabo Verde, um conjunto das ilhas inabitadas, que, com o descobrimento pelos portugueses em 1460, foi povoado a partir dos modelos de Portugal.

De início, a vida em Cabo Verde era baseada no comércio com a costa Africana e, posteriormente, com a Europa e a América devido ao tráfico negreiro. O povoamento foi feito por diversas etnias vindas da costa Africana, o que, possivelmente poderia ajudar na inserção das práticas portuguesas, e populações da metrópole. Porém, devido a problemas financeiros enfrentados pela coroa, esse povoamento não ocorreu como o pretendido. Além do fato de Cabo Verde não apresentar maiores recursos de sobrevivência para os moradores. O processo de mestiçagem iniciou-se porque havia insuficiência de mulheres brancas, fazendo com que os senhores brancos juntassem-se com uma ou mais escravas. Referente às particularidades das ilhas, cada uma tinha suas próprias características.

Desde o início do povoamento, houve diversas formas de resistência frente à dominação colonial, devido aos maus tratos do regime colonial. Com a independência do Brasil, em 1822, surgiram revoltas mais marcantes em Cabo Verde, a exemplo, a dos camponeses na Ribeira dos Engenhos. Em 1936, surge o movimento Claridoso, com Baltazar Lopes da Silva e Jorge Barbosa, a fim de afirmar a identidade cabo-verdiana e o nativismo literário. O movimento Claridoso pode ser considerado como um suporte que, mais tarde, serviu para a luta de independência. Segundo Martins:

“Pode, assim, constatar-se que o cidadão cabo-verdiano desde os primórdios da colonização sempre gritou pela liberdade e autonomia, embora essas formas de manifestação não tivessem grande importância internacional, mas sim a nível nacional.” (MARTINS, 2009, p. 43)

Apoio Socialista


No nível internacional, a luta só foi conhecida a partir do momento em que Amilcar Cabral e seus companheiros – PAIGC – fazem sentir a sua luta, com a ajuda do desenvolvimento dos meios de comunicação. Por ser o partido dominante, não houveram conflitos entre partidos nacionalistas, o que fez o processo de independência ser mais fácil. Com final da Segunda Guerra Mundial as potencias coloniais ficaram enfraquecidas, e, o mundo socialista interessou-se pelo continente africano. A Europa estava dividida em campos antagônicos: socialista e capitalista. O mundo socialista via-se como o guardião da independência africana. O que influencio o fato do PAIPG ter tido apoio da URSS, China, Cuba e Argélia. A China, por exemplo, acreditava que por ter vivenciado uma experiência análoga à da África, estaria bem posicionada para ajudar o continente, compreendendo os problemas do colonialismo, ajudando-os a conduzir com sucesso o processo de descolonização. Além de custear a construção de uma linha férrea, ligando a Tanzânia a Zâmbia, conhecida como TAZARA. A guerra do Vietnã também influenciou os africanos, que consideravam ter um inimigo em comum com os vietnamitas. Com a vitória vietnamita, encerrou-se o mito de que apenas o poderio militar fosse a chave para vitória. Já Portugal, parecia não estar disposto a reconhecer a autonomia das colônias, tanto que uma de suas medidas foi tentar isolar suas colônias dos “vizinhos”. Vale salientar que Portugal foi o ultimo império colonial a aceitar a independência de suas colônias, em 1975, e segundo Martins, dando inicio a uma das guerras civis mais trágicas da descolonização, em Angola.

Origem do PAIGC

O PAIGC – Partido para Independência da Guiné Bissau e Cabo Verde – tinha como objetivo a libertação de Cabo Verde e Guiné Bissau. Surgiu a partir de movimentos estudantis. Tinha como molde o monopartidarismo soviético, e tinha como estratégia de luta a questão cultural. Segundo Cabral:

“[...] devemos dizer concretamente, que a própria criação do nosso Partido, que planificou e avançou a nossa luta de libertação nacional, é um facto de cultura. É uma prova clara da resistência cultural, porque nós queremos ser nós mesmos, africanos da Guiné e Cabo Verde e não tugas.” (CABRAL, 1974, p. 187)

O partido foi fundado em 1956, na Guiné Bissau, por Amilcar Cabral e mais cinco patriotas. O retorno às raízes (ou as fontes) era a preocupação dominante entre os intelectuais africanos que se consideravam revolucionários. Para Amilcar Cabral, a falta de uma ideologia era um problema grave a luta pela libertação nacional. Segundo Cabral, era preciso acabar com a colonização mental feita pelos europeus:

“Devemos trabalhar muito para liquidar na nossa cabeça a cultural colonial, camaradas. [...] o colonialismo meteu-nos muitas coisas na cabeça. E o nosso trabalho deve ser tirar aquilo que não presta e deixar tudo que é bom.” (CABRAL, 1974, p. 188)

Não houve luta armada em Cabo Verde, devido a sua condição geográfica, porém, esta ocorreu em Guiné Bissau. E esta foi vitoriosa pelo fato das tropas portuguesas desconhecerem o seu terreno interior, além da população apoiar os militantes. Entre a Guiné e Cabo Verde, sempre houveram diferenças sócio-culturais, porém as políticas de governação eram adaptadas, e Cabo Verde sempre ficava em vantagem. Nem todos os cabo-verdianos eram partidários do PAIGC, tanto que foram criados outros partidos como o UPICV (1956), que se recusava á união com a Guiné. Foi criado também a UDCV, que não queria a independência, pois tinha como objetivo, manter a relação com Portugal. Amilcar desejava a união da Guiné e Cabo Verde, porém nem todos guineenses e cabo-verdianos compartilhavam do mesmo desejo. No seio do partido, era possível encontrar diversos conflitos, por causa da matriz ideológica, e isso só não prejudicou a luta pelo fato dos objetivos estarem bem traçados. O importante é que, foi com o PAIGC que Portugal negociou a independência da Guiné e de Cabo Verde, porém, exigiu que as independências fossem tratadas separadas. E, mesmo após a morte de Cabral, o partido continuou, e luta também. Porém, com a sua morte, a destruição do partido e o fim da unidade guineense – cabo-verdiana, mostram as contradições existentes dentro do PAIGC.

Monopartidarismo: início e fim

Cabo Verde se torna independente em 5 de julho de 1975, baseando-se nas idéias de Amilcar Cabral, com Aristides Pereira eleito como presidente da república. Com a Independência, o regime monopartidário entrou em vigor, e com isso, alguns membros da elite intelectual começaram a se desligar. O Estado tinha o poder de controlar tudo: a política, a economia, os investimentos estrangeiros. Como justificativa, era dita que seria uma necessidade para garantir a unidade colonial. Outra justificativa para afirmar o monopartidarismo, consiste no fato de ter sido o PAIGC que lutou pela independência, logo, caberia a ele ser responsável pela unidade nacional, já que se julgava o criador do Estado de Cabo Verde. E mesmo que o regime tivesse um caráter autoritário, este foi mais ameno, se comparado aos outros países Africanos. Como exemplo pode-se citar as guerras civis em Angola.

A ausência de luta armada em Cabo Verde fez com que sua independência não fosse reconhecida de imediato. E alguns portugueses e cabo-verdianos acreditavam que Cabo Verde ganharia mais se estive ainda como território português. Outros acreditavam que Cabo Verde poderia ser independente mantendo relações com Portugal. Ainda, algumas comunidades cabo-verdianas, instaladas nos Estados Unidos da América, eram contra o PAIGC. O partido único tinha controle de tudo, o que não impediu o surgimento da oposição, o que, até mesmo em seu interior, existia.

O desenvolvimento dos meios de comunicação, mais uma vez, tive efeitos em Cabo Verde, pois com isso, a comunidade internacional passa a defender o respeito pelos direitos humanos e políticos e a expansão da democracia. O grupo composto pelos que participaram da luta armada impôs sua hegemonia no partido, eles ocupavam os cargos mais altos. Havia uma idéia de que aqueles que “combatera”, “doaram” a liberdade ao “povo” cabo-verdiano, logo, seriam “os melhores filhos da terra”. De acordo com Anjos, esse discurso teria um princípio de sacralização do poder. Segundo Anjos:

“se a revolução visa “um novo homem”, “os melhores filhos da terra”, isto é, aqueles que combateram, são a encarnação, no presente, do futuro que se pretende para o resto da população” (ANJOS, 2006, p. 203)

Porém, com o passar do tempo, essa justificativa, já não se sustentava:

“Se a elite do PAIGC soube ao longo de vinte anos de governo contruir a crença no valor social dessa instituição-nação, contudo sempre esteve longe de alcançar o consenso que sempre propagou ideologicamente e, muito menos, a unidade de intelectualidade”. (ANJOS, 2006, p. 199)

Houve também uma sacralização em relação a figura de Amilcar Cabral, como o herói nacional, “herói fundador” e “militante nº 1”. O partido quem atribuía sentido a realidade, criando uma relação de poder com o sagrado. Essas representações de poder consistiam na manipulação do mito, por aqueles que estavam no controle. O objetivo era reconstruir a legitimidade do PAIGC, por meios de rituais e discursos de nacionalismo, reativando ressentimentos difusos na sociedade, canalizando o ódio ao inimigo, aquele que colocaria em risco a nova nação (ANJOS, 2006, p. 200). Essa invenção da nação cabo-verdiana foi feita a partir de modelos burocráticos exteriores a ela, juntamente com a reinvenção da tradição com os símbolos da nacionalidade emergente.

Em 1990, surge o MpD – Movimento pela Democracia – que conduz manifestações pela adesão de um regime pluralista. A direção do PAIGC chega a reconhecer o regime monopartidário como um regime que tende a eliminar a liberdade, porém, para ele, seu exercício de poder teria impedido que isso acontecesse. Contudo, o regime nunca é apresentado como autoritário. Assim, a insatisfação dos grupos populares leva ao fim o regime monopartidário.

Conclusão

Podemos perceber que, uma das mudanças mais fundamentais dos anos 60 foi a descolonização, já que mais da metade dos países da África estavam conquistando a independência. Porém, todas as conquistas referentes a essas lutas ocorreram de acordo com os grupos que obtiveram maior poder e influencia. Se essas conquistas foram bem conduzidas ou não, não cabe aqui responder. O interessante é analisar como, de fato, esses eventos históricos ocorreram e, analisar o contexto, a fim de perceber as reais intenções das partes envolvidas. A colonização, de maneira mais branda, ou não, sempre será considerada ruim e desumana. Porém, a ajuda dos socialistas para independência dos países africanos não poderia se basear apenas na comoção pelos direitos humanos. Houve uma grande influencia do fim da Segunda Guerra Mundial e a Guerra Fria. E ao apoio internacional pela democracia em Cabo Verde, provavelmente não ocorreu devido aos simples desejos de que todos pudessem viver em um país democrático, com liberdade “de ir e vir”. É importante também salientar que, mesmo lutando pelo fim da colonização, o PAIGC não foi tão homogêneo quanto quis mostrar. Dentro do mesmo houveram divergências, o que ao fim levou a divisão do partido. Além da contradição entre idéia de liberdade nacional e regime monopartidário autoritário.

De fato, muitas considerações podem ser feitas a respeito do tema.

Referências Bibliograficas:

ANJOS, José C. Gomes. Cap. 5 “A era do melhores filhos da terra” e cap. 4 “O nacionalismo cabo-verdiano”. In: Intelectuais, literatura e poder em cabo verde: lutas de definição da identidade colonial. Porto Alegre: UFRGS, 2006.

___________________________. Elites Intelectuais e a Conformação da Identidade Nacional em Cabo Verde. In: Estudos Afro-Asiáticos, Ano 25, nº 3, 2003, pp.579-596

CABRAL, Amilcar. “Resistência cultural”. In: PAIGC. Unidade e Luta. Lisboa: Nova Aurora, 1974.

TIAM, Iba Der; MULIRA, James. Cap. 27 “A África e os países socialistas”. In: História geral da África, VIII: África desde 1935 / editado por Ali A. Mazrui e Christophe Wondji. Brasília: UNESCO, 2010.

MARTINS, Amarilis Barbosa (2009). Relações entre Portugal e Cabo Verde antes e depois da independência. Dissertação de mestrado apresentada na Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias.


Por Wkellisson Daniel

O objetivo desse artigo é explicar a formação dos estados de Cabo Verde e Guiné-Bissau, partindo de um entendimento que essas antigas colônias portuguesas em África estão conectadas até o momento das suas independências. A articulação da independência estava diretamente ligada com um sistema de resistência cultural e suas práticas na fomentação política de seus partidos de libertação e uso da formação política de duas nações contra a repressão colonial.
Essas duas colônias começaram com um processo de exploração colonial diferente, Cabo Verde era um arquipélago desabitado próximo a costa atlântica da África – subsaariana onde está localizada Guiné-Bissau. O marco da chegada portuguesa na costa da África – subsaariana é em 1434 com o navegador Gil Eanes que ultrapassou o Cabo Bojador, a partir daí as navegações vão fazer o reconhecimento da parte costeira da África Negra chegando até Serra Leoa e depois o golfo da Guiné.1
A descoberta das ilhas de Cabo Verde ou redescoberta é datada vinte anos depois da travessia do Cabo Bojador entre 1455 e 1456 e estão atribuídos a diferentes navegadores do processo de expansão ultramarino português como a Cadamosto, ora Antônio de Noli e ainda Diogo Gomes.2 O povoamento de Cabo Verde ou inicio da exploração colonial neste arquipélago tem uma relação direta com a Guiné ou terra dos pretos no entendimento dos exploradores portugueses daquela época. Esse povoamento das ilhas em sua maioria foi de escravos africanos de origem da Guiné, o inicio do tráfico negreiro começou com expedição de Antão Gonçalves no ano de 1441 levando escravos para o reino português.3 A diferença da exploração de Cabo Verde e Guiné-Bissau é que uma funcionava como entreposto da metrópole como é o caso do arquipélago e outra era basicamente a exploração do tráfico negreiro nos seus anos iniciais de opressão portuguesa.
Ao longo dos séculos Portugal criou seus mecanismos de domínio sobre as terras das colônias como criação de fortes, de articulação com os chefes locais das sociedades nativas e o controle das rotas comerciais dessas populações. O império ultramarino português construiu sua economia com as colônias da África e América e seu poder como potência ultramarina européia. O império português começa a perder força no século XIX com perca da maior colônia no território sul-americano, o Brasil e o fim do tráfico de escravo. Com o fim da exploração colonial do Brasil e o tráfico negreiro a economia colonial começa a passar por dificuldades e Portugal inicia o seu processo de decadência em relação às outras potências colônias européia. A decadência portuguesa diante das potências é reconhecida quando ocorre a revolução industrial na qual Portugal não faz parte e assim sendo reconhecido como um país atrasado, mais a situação que colocou o império português como inferior aos outros foi na Conferência de Berlim 1884 onde houve a partilha do continente africano para as potenciais européias daquele período, Portugal foi o que menos ganhou com essa partilha no continente africano. O estado português inicia um processo de “ocupação efetiva” das suas colônias em África partindo para um novo sistema colonial mais opressão, com o intuído de dominação total dessas populações africanas, uma colonização mental, cultural e uma política de assimilação. Depois desta contextualização do inicio do processo de colonização de Cabo Verde e da Guiné-Bissau e um novo sistema colonial que vai ser vigente até a década de 1970 nesses territórios africanos e a influência deste sistema, quem vem direto da metrópole como forma de dominação que tem seu ápice no sistema conhecido como salazarismo, que gerou conflitos dentro da própria metrópole e nas colônias africanas. Assim se viu articulações e formações políticas e o aparecimento de revolucionários e partidos de libertação nas colônias contra essa dura política aplicada pelo salazarismo.
Salazarismo “fomento” para libertação
Em meados de 1926, Portugal inicia sua ditadura militar junto com a ascensão do movimento nacionalista que tentava resgatar a identidade da nação portuguesa e sua valorização no continente europeu. Reconstruindo uma ideia de nação expansionista no intuído imperialista em relação a suas colônias.
Um dos mentores dessa ideia de reconstrução da identidade portuguesa é Antonio de Oliveira Salazar, construindo a noção de imperialismo português. Com a chegada de Salazar ao poder do estado português junto com a ditadura militar formula políticas de dominação opressora. A principal política promulgada por Salazar em 1930 foi o Acto Colonial cito um estudioso em salazarismo Valentim Alexandre “Acto Colonial procurava marcar da forma mais solene a determinação do regime em preservar o império”,4 analisando essa citação fica clara a ideia de um regime de opressão as colônias com intervenções seja qual fosse para manter o tal “imperialismo” português sobre seus domínios colônias.
O grande momento de Salazar no poder é a partir do fim do regime militar em 1933 e a criação da ditadura fascista do Estado Novo, e se inicia oficialmente o regime salazarista. Com características principais parecidas com as dos séculos iniciais da chegada portuguesa em África como uma missão colonizadora e evangelizadora sempre com o apoio da igreja católica, mas trazendo novos conceitos como anticomunismo, conservador, autoritário, repressão, para compreender o sistema opressor salazarista nas colônias africanas cito Perry Anderson:


Trabalho forçado em massa: leis transmitidas de facto: capital estrangeiro onipresente: um conjunto de proletariado branco incendiário: uma superestrutura de magia: uma máquina social e econômica funcionando num vazio, impulsionada pelo terror puro. Esse era o sistema do imperialismo português [...] o mais primitivo, o mais deficiente e o mais cruelmente exploratório regime colonial da África.
ANDERSON, Perry. Portugal e o fim do Ultracolonialismo. Editora: Civilização brasileira S.A. RJ. p.99
Esse contexto de opressão do regimento salazarista vai se perpetua até as independências das colônias em África em meados da década 1970.
O cenário internacional pós- segunda guerra mundial proporcionou uma divisão política no globo terrestre dividindo e os países numa bipolaridade que se entendia aqueles apoiados pelo bloco socialista (comunismo) e o bloco capitalista, as divergências entre a parte socialista e a capitalista coloca no cenário mundial o inicio da guerra fria que vai muda o contexto das colônias africanas em relação ao regime salazarista. Com influência do bloco socialista nas lideranças africanas contra o salazarismo, inicia na década de 1950 os partidos para a libertação nacional nas colônias dominada por Portugal. O império português anticomunista começou a reprimir com violência as revoltas nessas colônias que na década de 1960 com o apoio do bloco socialista começa a se revolta com armas e técnicas de guerrilha usadas pelos partidos de libertação.
A articulação para a libertação do Cabo Verde e Guiné-Bissau diante do regime salazarista proporcionou o enfraquecimento deste mesmo regime culminando na Revolução dos Cravos na metrópole opressora. O partido que fez essa mudança foi o PAIGC liderado por Amilcar Cabral e suas articulações e concepções novas para a formação cultural em prol da libertação de uma doutrina colonial.
A construção da libertação e o militante nº 1
As independências de Guiné-Bissau (1973) e Cabo Verde (1975) são datadas do inicio da década de 70, a construção da libertação começou pela literatura de autores desses países mostrando o sofrimento diário dos autóctones, principalmente no caso da Guiné-Bissau. A questão de ser ou não um autóctones em Cabo Verde gerou grande embate na formação da identidade na construção da libertação deste país.
A população cabo-verdiana participou intensamente de um processo de crioulização ou mistura de culturais dentro do arquipélago. O seu processo de colonização gerou essa crioulização ocorreu entre as populações portuguesas e pelas migrações involuntárias principalmente dos escravos africanos que formou a maior parte das populações das ilhas.
A literatura fomentou a conscientização das pessoas que sabiam ler e escrever em português, porque ao longo do processo colonial não teve um processo intenso de letramento dos autóctones na língua portuguesa construindo assim uma população analfabeta na língua do colonizador.
Parte da elite local que tinha acesso à educação feita para uma política de assimilação no caso de Cabo Verde, essa elite se considerava mestiça fugindo de uma tida raiz “tribal” de seus ancestrais escravos que colocariam como inferiores. Muitos integrantes dessa elite mestiça concluíam seus estudos em Portugal. Esse contato da elite mestiça com as populações da metrópole gerou conflitos na questão da dita identidade mestiça, construída pelas políticas de assimilação.
O conflito de identidade desses ditos mestiços estimulou em alguns intelectuais da elite mestiça a busca de uma resistência contra opressão sofrida na metrópole, assim suscitando neles suas raízes africanas. Os intelectuais passaram a compreender que construindo uma literatura valorizando as origens africanas iriam combate e se opor a opressão colonial vivenciada na metrópole.
Todo esse embate e uma nova construção ideológica fez surgir lideranças em prol da libertação de Cabo Verde e Guiné-Bissau no caso específico desses dois países, ganha destaque o papel da luta exercida por Amilcar Cabral como militante nº 1.
A vivência de Amilcar Cabral na metrópole fez com que, ele conhecesse outros militantes na luta pela libertação e o obras de autores contra a colonização e o racismo. A condição de negro vivendo na metrópole e ainda oriundo de uma colônia faz Cabral refletir sobre a condição humana em que as populações negras vivem, seja ela em África ou nos outros países onde há uma população negra oriunda de uma migração involuntária através da escravidão no processo colonial. Essas reflexões do militante nº 1 afloraram com o conhecimento de autores negros da diáspora e o movimento negritude no qual era formado por intelectuais como Aimé Cesaire.5
Sua formação política foi em teorias marxistas, mas para introduzir uma ação intelectual nos povos contra o poder colonial, Cabral preferiu trabalhar a questão da cultural “Na nossa situação concreta temos que dar grande atenção à resistência cultural”,6 se impondo culturalmente contra o colonizador e seu sistema vigente opressor fará um embate sobre a questão em que a colônia ver o colonizado como inferior. A ação cultural coloca em igualdade o negro colonizado e o branco colonizador assim mostrando ao opressor que cultura do colonizado não é inferior e nem pior, construindo pilares para a formação intelectual dos povos na luta de libertação.
A luta pela independência tomou maiores proporções com a fundação do Partido da Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC), no ano de 1956 tendo como seu líder Amilcar Cabral. Caracterizando uma unidade entre o arquipélago e a Guiné-Bissau na luta de libertação, essa unidade faz pensar a origem do Cabo Verde ligada as suas raízes africanas e de como o sistema colonial tentou apagar e criar um estilo cultural para essa população visto como mestiça formado por um passado europeu e deixando de lado o africano, Cabral explica o porquê da assimilação imposta pelo estado colonial:

Para fugir...ao dilema da resistência cultural – a dominação colonial imperialista tem tentado criar teorias que, na realidade, são grosseiras formulações de racismo e que na prática se traduzem num permanente estado de sítio para as populações aborígenes...na base da ditadura racista (ou democracia). Isto, por exemplo, é o caso da suposta teoria da assimilação progressista das populações nativas, que não é mais do que uma tentativa menos violenta para negar a cultura do povo em questão.
CABRAL, AMILCAR. “National Liberation and Culture”. In: Unity and Struggle; Speeches and Wiritings of Amílicar Cabral.


As estruturas do sistema colonial na sua forma, mas cruel pode ser compreendida no que se refere à dominação mental dos indivíduos. Com uma formação política e cultural e o desenvolvimento da resistência cultural o sistema colonial opressor passara a sentir a força da luta, mas no caso de Cabo Verde e Guiné-Bissau a força cultural não vai ser suficiente para se livra do domínio português e sim a luta armada.
A primeira insurreição será em 1963 com participação de todos do movimento de libertação entres eles o PAIGC, que com ajuda soviética de armas e treinamento de guerrilha, vão luta até suas independências inicio de 1970.
O maior expoente da luta e o militante nº 1 do movimento libertação Amílcar Cabral não chegou ver a libertação dos países, foi assassinado em 20 de janeiro de 1973 pela polícia política (PIDE).
Todo o sistema opressor faz o seu fim, no caso visto nesse trabalho onde as teias da opressão se formaram no século XV e só caíram no século XX. As feridas deixadas pelo sistema colonial português não saíram fácil daquelas populações que tiveram um grande atraso econômico causado por anos de exploração predatória das riquezas oriunda daquelas terras.
A consciência e a formação política dos seus líderes contribuíram de uma forma sólida para refazer os estados e a resistência cultural fez com quem suas populações revisassem seu passado e suas resistências anteriores ao longo do processo colonial.
O fim do sistema colonial e a “libertação” destes países não significaram numa melhora rápida e nem uma consciência mutua em prol do desenvolvimento. A economia já enfraquecida pela exploração colonial e o inicio de divergências políticas para uma consolidação dos sistemas nacionais, pós-regime colonial dificultando as melhorias necessárias. Em suma, os movimentos de libertação trouxeram de volta a ideia que tudo pode ser alterado mesmo num sistema opressor tão forte e violento.





1 HOLANDA, Sérgio Buarque de. Tomo I A época colonial: Volume 1 Do descobrimento à expansão territorial. 16ª edição. Editora Bertrand Brasil. P.35
2 Ibidem. P.39

3 Ibidem. P.39
4 ALEXANDRE, Valentim. Velho Brasil Novas Áfricas; Portugal e o Império (1808-1975). Editora Afrontamento. P.215

5 Intelectual e uns dos principais líderes do movimento negritude.

6 CABRAL, Amílcar. P.A.I.G.C; Textos Amilcar/ nº 2. Lisboa- 1974


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ANDERSON, Perry. Portugal e o fim do Ultracolonialismo. Editora Civilização Brasileira S.A. RJ.
ALEXANDRE, Valentim. Velho Brasil novas Áfricas: Portugal e o Império (1808-1975). Editora Afrontamento.
CABRAL, Amílcar. P.A.I.G.C. Unidade e Luta. Textos Amilcar Cabral/ nº2. Lisboa-1974.
CABRAL, Amílcar. “National Liberation and Culture”. In Unity and Struggle: Speeches and Writings of Amílcar Cabral. Monthly Press. 1979.
JORDAN, Josehp. Cabral no cruzamento de Épocas; Cabral solidariedade e a Diáspora Africana nas Américas.
HOLANDA, Sérgio Buarque de. Tomo I A Época Colonial: Volume 1 Do descobrimento à expansão territorial. 16ª edição. Editora Bertrand Brasil.
MENDY, Peter Karibe. Revista de estudos guineenses Soronda: A herença colonial e o desafio da integração. Nº 16. Julho. 1993.