Por Rafael Oliveira
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No livro A República, Platão formula uma cidade ideal,
onde para ele haveria a tão sonhada justiça. Essa cidade era fundamentada na
divisão do trabalho. Para Platão, uma cidade justa só poderia existir se cada
homem cumprisse com suas funções. Para isso, ele dividiu os homens em três classes
diferentes: a primeira delas seria a dos artesãos. Esses se dedicariam à
produção de bens materiais; a segunda seria a classe dos guerreiros, que seriam
responsáveis por defender a cidade de possíveis males; a terceira era a dos
filósofos, que deveriam dirigir a cidade e zelar pela obediência das leis. Platão
dizia que cada pessoa nascia com aptidões distintas e que elas definiam a que
classe as pessoas pertenceriam. Como explica Paulo Ghiraldelli Jr.: 1
“A República Platônica foi elaborada
com uma divisão social estruturada em três estamentos: o dos trabalhadores
manuais, responsáveis pela produção artesanal e agrícola da cidade; o dos
guerreiros, responsáveis pela ordem interna e pela proteção da cidade contra
invasores; e dos sábios, governantes que formariam o conselho do qual deveria
sair o rei – o rei-filósofo.”
Ele dizia que a forma
correta de governo deveria se espelhar na alma e no ser humano. Como no corpo
humano, a cabeça é que governa, na cidade ideal, caberia àqueles dotados da
razão, os filósofos, o dever de governar a cidade. Já aqueles detentores da
cólera, a qual ele associava ao peito, seriam os corajosos, os guerreiros, que
lutariam em prol da manutenção da organização e da paz da cidade. O terceiro
grupo era comandado pelos desejos, que no corpo humano seria afim da região do
baixo ventre. Essa classe, a dos artesãos, deveria controlar seus desejos para
conseguir manter a temperança. Para isso eles deveriam empregar a força
resultante de seus desejos naquilo que possuem habilidade para realizar, os
seus trabalhos específicos. Na alma também há essa tripartição: a logistikón, é
a parte responsável pelos cálculos e pelo raciocínio; a thymólides é onde há a
cólera ou a parte irascúvel; e a epithymetikón, que é a parte desejante.
Platão dizia que era importante que
toda a cidade fosse feliz. Uma classe não poderia usufruir de uma felicidade
superior a de outra classe, todos, independentemente de ser filósofo, guerreiro
ou artesão deveriam possuir a mesma felicidade. Mas para haver felicidade, era
necessário haver justiça, e para haver justiça seria necessário partir da
estaca zero. Ele dizia que a família deveria deixar de existir. Ao nascer, as
crianças deveriam ser retiradas de suas mães, e serem educadas pela cidade.
Nenhuma mãe ou pai conheceria seu filho, do mesmo modo que os filhos não
saberiam quem são seus pais. Com isso, não existiriam os laços familiares, as
pessoas seriam menos egoístas e alheias aos maus hábitos.
Portanto, com as crianças sob custódia
do “Estado”, seria preciso um sistema educativo que desenvolvesse as virtudes
necessárias para cade classe.
“Na cidade utópica, todos os
habitantes adentrariam o ambiente terreno com a mesma estrutura psicológica – a
estrutura da alma -, mas nem todos, no decorrer do processo educacional
institucional, mostrariam igual desenvolvimento. O compartilhamento de certas
características revelaria o caráter e as possibilidades de cada indivíduo”. 2
Durante
os dez primeiros anos de vida, a educação
da criança seria predominantemente na parte física. Após os dezesseis a música
ficaria responsável por ensinar ao espírito. Quando atingissem os vinte anos,
seria a hora de um teste prático e teórico, que dividiria os homens em suas
respectivas classes. Os que não passassem seria designados à terceira classe, a
dos artesãos. Os outros alunos receberiam mais dez anos de ensino, até
realizarem outro teste, que permitira aqueles que passassem a estudar a
Filosofia e se dedicarem ao estudo do mundo das ideias.
VIRTUDES
|
CIDADE
|
ALMA
|
Sabedoria
|
Governantes
|
Raciocínio
|
Coragem
|
Guardiões
|
Cólera
|
Temperança
|
Todas as classes
|
Todos os elementos
|
Justiça
|
Todas as classes
|
Todos os elementos
|
“O papel do intelecto seria o de
governo da própria vida, o papel do espírito seria o de energizar as atividades
vitais e, enfim, os apetites precisariam ser treinados para cumprir o que é
reto e nobre. O predomínio de uma instância traria a distinção de caráter. As
pessoas cuja senhoria se exercesse pela razão poderiam ser filósofas; elas
teriam tudo o que é necessário para participar do conselho de governantes e até
mesmo para chegar a ser rei. As pessoas cujo espírito fosse o motor principal
seriam homens de ação e, uma vez educados, formariam o grupo dos guerreiros,
defensores armados da cidade. Por fim, os que caíssem sob o domínio dos
apetites [...] estariam destinadas a trabalhar com as mãos, no artesanato e
afins, servindo na cidade para o estamento dos operários e artesãos.”. 3
Platão
dizia necessário a criação de um método capaz de impedir que a incompetência e
a corrupção existissem no governo público.
Por isso, a cidade ideal, só poderia ser governada por aqueles que possuíssem
a habilidade da sabedoria, os filósofos. Dentre todos os sábios, seriam
escolhidos os melhores, e estes teriam que submeter-se a diversas provas para
avaliação de seu patriotismo e resistência. Uma vez aprovados, receberiam o
título de Filósofo-Rei. Seriam aqueles capazes de, através da sabedoria, realizar
uma justiça social. É importante ressaltar que não haveria distinção entre os
sexos, homens e mulheres poderiam pertence a qualquer uma das classes, de
acordo com sua capacidade a aptidão.
Um fator importande na cidade ideal de
Platão, seria o fato de o indivíduo se renunciar em prol da sociedade. O
egocentrismo seria inaceitável, sendo o altruísmo necessário para a existência
da justiça. Por isso era necessário que todas as classes cumprissem suas
funções de maneira correta, pois só assim seria possível uma igualdade para
todos os cidadãos da cidade.
Platão teve duas chances de por em
prática sua cidade ideal, porém em ambas não conseguiu realizar-la. O próprio,
após isso, reconheceu que sua cidade ideal, baseada na justiça entre as classes
e na felicidade única dos homens era utópica.
NOTAS
1,2,3 - GHIRALDELLI JR., Paulo. “Filosofia da Educação”, Editora Ática
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
GHIRALDELLI
JR., Paulo. “Filosofia da Educação”.
Editora Ática
PLATÃO.
“A República”. Editora Escala. 2ª Ed.
2007
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirnão seria possível e nunca sera por em pratica uma sociedade perfeita, para isso o individuo também deveria ser perfeito! e nos parâmetros antigos criar uma sociedade de tal forma seria cometer alguns crimes na sociedade moderna, agora uma sociedade melhor que liberte o humano da auto-escravidão... sim já possuímos condições mais que suficiente... e alem do mais ou nos organizamos ou acabaremos com a vida no nosso planeta.
ResponderExcluirObrigada 😊😊
Excluirnão seria possível e nunca sera por em pratica uma sociedade perfeita, para isso o individuo também deveria ser perfeito! e nos parâmetros antigos criar uma sociedade de tal forma seria cometer alguns crimes na sociedade moderna, agora uma sociedade melhor que liberte o humano da auto-escravidão... sim já possuímos condições mais que suficiente... e alem do mais ou nos organizamos ou acabaremos com a vida no nosso planeta.
ResponderExcluirSou kardecista e só acredito na possibilidade de aperfeiçoamento do Ser Humano, através de inúmeras reencarnações, quando seu ESPIRITO, através do sofrimento, do estudo e de muitas e muitas oportunidades de outras vidas,
ResponderExcluiraprender o que significa amor ao próximo, humildade e fé em nosso SER SUPREMO, criador do Mundo e de todos nós, pobres mortais.
o que é cidade Justa?e quais as semelhanças com a cidade de chicago futurista ?
ResponderExcluirGostei muito do seu artigo, colocou tudo bem articulado e simples, com fácil entendimento para quem deseja saber um pouco de filosofia. Obrigado.
ResponderExcluirFormidável meu caro muito me alegro-me por pessoas que se dedique ao conhecimento,grato pela contribuição.
ResponderExcluirbomm
ResponderExcluirQual a solução para uma mulher na sua cidade utilizando as propostras do filosofo grego Platão?
ResponderExcluir"É importante ressaltar que não haveria distinção entre os sexos, homens e mulheres poderiam pertence a qualquer uma das classes, de acordo com sua capacidade a aptidão."
ExcluirPosso estar enganado, mas na minha opinião a Igreja Católica emprega muito bem vários desses conceitos. Esqueça o conteúdo e atenha-se à forma. Um padreco de uma paróquia do interior da Argentina chegou ao posto máximo da Igreja Católica, galgou todas as posições por mérito e aptidão... Não se faz uma "eleição" com sufrágio universal (a falácia do sufrágio universal como sinônimo de democracia), perguntando a todos o fiéis se querem o Padre Marcelo Rossi ou Padre Fábio de Melo como Papa, mas os melhores (para os fins da Igreja Católica que fique claro!) escolhem entre eles quem será o Papa... E tem funcionado por dois milênios!
ResponderExcluirAcho que a igreja nao estar nao
ExcluirSeria IMPOSSÍVEL por em prática a Cidade de Platão nos dias actuais. As cidades atuais e todos os avanços tecnológicos deveriam sumir.teria que dizimar e exumar muitas coisas e as cidades atuais e todos os avanços .
ResponderExcluirQue artigo bem escrito! A cidade ideal de Platão, sem dúvidas, é pura utopia, infelizmente. Parabéns pelo trabalho
ResponderExcluirNda
ExcluirPlatão era um homem com as corretas idéias, mas infelizmente as idéias dele eram avançadas demais para serem botadas em prática naquele tempo, assim como também o é atualmente. Só daqui a muitos e muitos séculos, só com advento dos ideais de igualdade social e do direcionamento para com uma sociedade mais coletiva e justa que poderemos dar os primeiros passos em direção à sociedade perfeita, que é a sociedade onde todos só visam o amor universal. Sigamos nosso querido Socrátes e esforcemo-nos para nos conhecermos, para assim, combatermos nossas mazelas íntimas que tanto sujam o mundo, só assim um dia seremos perfeitos.
ResponderExcluirNao esto d acordo
ResponderExcluirJustiça, humildade, igualdade, sabedoria e amor ao próximo são virtudes aprendidas com a etica. A ética é um conjunto de teorias que procuram explicar e ensinar um bom funcionamento social. Mesmo aprendidas não são aplicadas entendo e compreendo a decisão de Platão - Utopia - para isto ser possível a ética tem de ser sentida e aplicada por cada um de nós, mas a vida não dá tempo para as pessoas refletirem e julgar seus comportamentos. Tempo não se compra! Boa reflexão...
ResponderExcluirVerdade
ExcluirObrigado pela informação usarei no meu trabalho de filosofia ;)
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ResponderExcluirOlá Rafael. Gostei de seu artigo, mas faria uma pequena correção:
ResponderExcluirNa realidade, a proposta educacional de Platão na República, apesar de visar o bem e a felicidade de toda a sociedade, diz respeito apenas ao grupo dos guardiões, educados para o que seriam hoje os 3 poderes do estado, e ele não propõe que toda a sociedade viva e seja educada da mesma forma, pois isso seria impraticável, mas apenas aqueles que tivessem vocação para essa classe dos guardiões. E vemos hoje algo parecido nas forças armadas de muitos países, onde grupos especiais recebem treinamentos muito mais rigorosos que os demais, a fim de poderem exercer suas funções com a máxima qualidade.
Assim, ele não propunha o fim da família na sociedade, mas sim a formação de um grupo totalmente voluntário, que receberia árduo treinamento a fim de garantir que seriam rigorosos e valentes na defesa dos princípios da justiça. E apenas este grupo viveria de acordo ao que está proposto na República, e o restante da sociedade viveria já de outra forma, com menos rigor, como está proposto noutro livro dele, "As Leis".
Obrigado.
Quais os três grupos sociais que plantão fez analogia entre o indivíduo e o cidadão?
ResponderExcluirObrigado
Excluirdefinição de educação para platão
ResponderExcluirPlatão aceitava a escravidão?
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