Por Gabriela M. Ribeiro e Laíne Mendes
Fotos: Nathalia Bastos
O dia 21 de novembro de 2013 trouxe uma novidade para o curso de História da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro: a inauguração de um novo grupo de estudo acadêmicos, o Pluralitas – Núcleo Interdisciplinar de Estudos Históricos. O mesmo reúne diversos pesquisadores das áreas de história antiga, medieval e teoria, mas também mantém dialogo com outros campos de conhecimento, como a área de letras e filosofia, por exemplo.
Neste
sentido, o Pluralitas traz um diferencial ao propor um ambiente de
estudos mais amplo, prezando pela interdisciplinaridade e, deste
modo, buscando novos desafios e temáticas dentro do curso de
história. O nome do grupo foi inspirado na frase “Principium
Pluralitatis est Alteritas”
(O princípio da pluralidade é a alteridade) de Boécio (480-525
d.C).
O
evento ocorreu no auditório Paulo Freire, localizado na UFRRJ –
Campus Seropédica, no Instituto de Ciências Humanas e Sociais.
Professores e alunos colaboradores (14 alunos no total), sob
coordenação do discente Vanir Júnior, articularam toda a produção.
O
grupo é constituído por professores extremamente competentes. Entre
eles estão José da Costa D´Assunção Barros; Luis Eduardo
Lobianco, Manuel Rolph, Marcos Caldas, Miriam Coser, Raquel Pereira,
Renata Rozental e Rivia Fonseca. O Pluralitas também conta com
alunos em sua composição, sendo, desta forma, um grupo acessível
ao âmbito discente.
No
decorrer do evento houve a apresentação do site
www.pluralitas.webs.com.
feita pelo Professor Marcos Caldas (IM-UFRRJ). Por meio do site há
acessibilidade a fontes, arquivos, índice de bibliotecas, espaço
para fórum de debates e envio de mensagens.
O
Professor José D’Assunção Barros (IM-UFRRJ) apresentou o grupo
NUPEH (Núcleo de Pesquisas Historiográficas), que é voltado ao
estudo de teoria, metodologia e historiografias. O grupo de pesquisa está em
expansão e tem como um de seus objetivos formar um dicionário com
historiadores de todo o Brasil, estando também ligado ao Pluralitas. O NUPEH também é aberto ao âmbito discente. Ponto importante citado pelo professor – e que foi lembrado durante
todo o evento – foi justamente a questão da autogestão e a valorização
das iniciativas discentes. Esta é uma ideia
que é alimentada/incentivada dentro do NUPEH, onde as iniciativas e
decisões são feitas pelos próprios alunos. Esta atitude, defende
Professor D’assunção, é uma forma de sair da lógica cada vez
mais hierarquizada da universidade, “aonde
o aluno não aprende a mesma de uma forma aberta, conjunta e de,
alguma maneira, interdisciplinar”.
O site do grupo é www.nupeh.webs.com.
Após
apresentação acerca dos grupos de estudo e pesquisa, seguiu-se a
vez dos professores falarem sobre suas pesquisas e trabalhos
acadêmicos variados. O primeiro a palestrar foi o Professor Manuel
Rolph, que falou a respeito de sua tese de doutorado. Seu tema é
relacionado com o conceito de fronteira étnica romana. A fronteira
étnica, nas palavras do Professor, se define como um espaço de
interações, lutas, afirmações e rejeições, sendo um processo
construído pela consciência de alteridade de um grupo, que,
geralmente, é embasada em narrativas míticas de origem. É a partir
deste processo de fronteira que Roma construiu sua identidade étnica,
dando nova significação e ressiginificação ao mundo diversificado
existente ao seu redor. É, por exemplo, Roma quem dá nome aos
celtas, gregos, germânicos (como é possível ver nas narrativas de
Cícero ou Tácito), já que antes não havia denominações, mas
meras distinções culturais para aqueles que viviam em regiões
próximas.
A
segunda a se apresentar deveria ser a Professora Miriam Coser, mas a
mesma não pôde comparecer. Entretanto, o Professor Marcos Caldas
leu sua pesquisa, que tem como tema o campo da biografia e estudos de
gênero na Idade Média.
A
terceira Professora a se apresentar foi Rivia Fonseca. Convidada
pelos professores a integrar o Pluralitas, a professora da área de
letras ministra a disciplina de línguas latinas da universidade e,
com sua entrada no grupo de pesquisa, retomou estudos sobre a
antiguidade. A linguista e especialista em latim clássico tem como
projeto o uso de noções metodológicas da área de letras aplicadas
aos estudos textuais da história, como, por exemplo, a análise de
discurso, que propiciaria uma melhor compreensão de fontes de
materiais historiográficos.
A
quarta foi a Professora Renata Rozental Sancovsky. Ela chamou para
compor a mesa o discente Vanir Júnior (ex-bolsista PIBIC/CNPq e
atual FAPERJ). Representando os alunos que pesquisam em um espírito
pluralitano e que também são orientados pela Professora Renata,
Vanir apresentou os resumos das pesquisas dos outros pesquisadores
discentes.
O
primeiro projeto apresentado por Vanir foi o do aluno Caio César
(6ºperíodo e monitor de História Antiga e Medieval), que fala
acerca do “Corpus
Mysticum
e a construção do imaginário medieval de sociedade por Santa
Catarina de Siena”. Para isso, Caio utiliza os Diálogos
de Catarina e propõe o entendimento
de aspectos particulares do imaginário social do ocidente medieval
como parte da idealização de um Corpus
Mysticum
de Cristo.
O
segundo projeto foi o da aluna Tatiane Souza (FAPERJ), intitulado
como “Relações sociorreligiosas na Idade Média Hispânica, tendo
como fonte as epístolas de Rabi Moshe Ben Maimon (1135-1204)”.
Tatiane, além de evidenciar o “mito da convivência
pacífica” entre muçulmanos e judeus no período medieval, busca
estudar as produções historiográficas vigentes sobre as relações
sociorreligiosas na formação do mundo ibérico - especificamente
Espanha Muçulmana em contexto de Reconquista Cristã – tendo como
objetivo destacar – com base no discurso de Maimônides – as
possibilidades do judeu prosseguir
em sua fé, mesmo sofrendo conversão forçada, política esta
vigente no período de dominação
Almôada/Almorávida.
O
terceiro projeto foi o do aluno Samuel Felício (PIBIC/CNPq),
intitulado como “Assassinato ritual e hóstia profanada: imagem e
literatura clericais na construção de mitos antijudaicos juntos à
Cristandade Européia – Séculos XI a XIII”, no qual o aluno tem
como objetivo levantar
e analisar os pensamentos e práticas que possibilitaram a construção
de mitos antijudaicos no Ocidente Medieval, o que possibilitou a
formação de uma representação degradante dos judeus e promoveu o
antijudaismo popular.
O
quarto projeto apresentado foi o do próprio Vanir Júnior
(ex-PIBIC/CNPq e atual FAPERJ), intitulado como “Romanização e
Cristianização da Hispania:
Identidade, História e Literatura Eclesiástica – Séculos V-VII”.
Trabalhando com as Histórias
de Isidoro de Sevilha, Vanir tem como objetivo analisar a formação
de um
projeto eclesiástico no
qual os escritos do bispo hispalense (retomando uma tradição
literária típica de nomes como Paulo Orósio) aparecem como
fundamentadores e contribuintes diretos num processo formativo de um
discurso mitológico de unidade hispano-visigoda. Além disso,
evidenciam a participação clerical na formação deste imaginário
de poder, bem como seus objetivos no que diz respeito à conservação
da fé cristã nicena em solo hispânico, através do estabelecimento
de uma unidade régia.
A
Professora Renata Rozental, ao discursar sobre seu projeto de
pesquisa, falou que o mesmo é um estudo sobre processos discursivos
referentes à polêmica judaico-cristã no período inicial da Idade
Média, a partir daquilo que ela nomeou como literatura patrística
polêmica, na qual é encontrada uma série de elementos
anti-judaicos. Na mesma é possível identificar três discursos: o
da homilética/moralizante, o narrativo/discursivo e o teatral. Sua
pesquisa destaca a relação de alteridade entre judeus e cristãos
no mundo tardorromano e medieval. A pesquisa se encontra em contínuo
desenvolvimento.
O
último a apresentar foi o Professor Luís Eduardo Lobianco. Logo no
início de sua fala relatou sobre as aprovações da I Jornada do Pluralitas pelo colegiado do DHRI (Departamento de História e Relações Internacionais) e no CONSUNI/ICHS da UFRRJ, o que, nas palavras do Professor, foram
grandes vitórias para o grupo. Antes de falar sobre seu trabalho, apresentou as quatro linhas de pesquisa existentes no grupo: a
primeira é sobre Arte, formas de expressão e história intelectual;
a segunda é poder, interações e conflitos culturais; a terceira,
história social e das ideias; a quarta é economia política da
religião.
A
pesquisa do Professor Lobianco segue a segunda linha mencionada e é
intitulada Religião, Poder e sociedade no Egito Ptolomaico e
Romano. O seu objetivo é identificar as práticas religiosas do
Egito Helenístico e Romano, em específico o politeísmo e o hibridismo envolvendo egípcios, gregos e romanos. O
Professor Lobianco também citou outros trabalhos dos seus
orientandos. Serão citados aqui alguns: “Paulo e a mulher cristã
no Oriente Helenístico”, de Aparecida Conceição Azevedo; “Cultos
domésticos no Antigo Egito”, de Bárbara Carina L. da Silva e o
“Poder Feminino no Reino Novo. Hatshepsut e Nefertiti” de
Elizabete Cristina Da Silva Chaves.
Em
seguida, o Professor chamou à mesa um de seus orientados, o aluno
Thiago Ribeiro. O
seu tema de monografia, “Morte e Magia no Reino Novo e na época
Tardia”, tem como objeto de estudo a morte e a magia no Antigo Egito, com base em questões ligadas sobretudo à cosmologia, ao monismo e ao dualismo, a partir da análise de fontes iconográficas funerárias, em especial cenas de Psicostasias, mas também textuais - Livro dos Mortos.
Confira algumas imagens do evento:
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