segunda-feira, 27 de janeiro de 2014

Por Gabriela M. Ribeiro e Laíne Mendes

Fotos: Nathalia Bastos


O dia 21 de novembro de 2013 trouxe uma novidade para o curso de História da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro: a inauguração de um novo grupo de estudo acadêmicos, o Pluralitas – Núcleo Interdisciplinar de Estudos Históricos. O mesmo reúne diversos pesquisadores das áreas de história antiga, medieval e teoria, mas também mantém dialogo com outros campos de conhecimento, como a área de letras e filosofia, por exemplo.


Neste sentido, o Pluralitas traz um diferencial ao propor um ambiente de estudos mais amplo, prezando pela interdisciplinaridade e, deste modo, buscando novos desafios e temáticas dentro do curso de história. O nome do grupo foi inspirado na frase “Principium Pluralitatis est Alteritas” (O princípio da pluralidade é a alteridade) de Boécio (480-525 d.C).

O evento ocorreu no auditório Paulo Freire, localizado na UFRRJ – Campus Seropédica, no Instituto de Ciências Humanas e Sociais. Professores e alunos colaboradores (14 alunos no total), sob coordenação do discente Vanir Júnior, articularam toda a produção.

O grupo é constituído por professores extremamente competentes. Entre eles estão José da Costa D´Assunção Barros; Luis Eduardo Lobianco, Manuel Rolph, Marcos Caldas, Miriam Coser, Raquel Pereira, Renata Rozental e Rivia Fonseca. O Pluralitas também conta com alunos em sua composição, sendo, desta forma, um grupo acessível ao âmbito discente.

No decorrer do evento houve a apresentação do site www.pluralitas.webs.com. feita pelo Professor Marcos Caldas (IM-UFRRJ). Por meio do site há acessibilidade a fontes, arquivos, índice de bibliotecas, espaço para fórum de debates e envio de mensagens.

O Professor José D’Assunção Barros (IM-UFRRJ) apresentou o grupo NUPEH (Núcleo de Pesquisas Historiográficas), que é voltado ao estudo de teoria, metodologia e historiografias. O grupo de pesquisa está em expansão e tem como um de seus objetivos formar um dicionário com historiadores de todo o Brasil, estando também ligado ao Pluralitas. O NUPEH também é aberto ao âmbito discente. Ponto importante citado pelo professor – e que foi lembrado durante todo o evento – foi justamente a questão da autogestão e a valorização das iniciativas discentes. Esta é uma ideia que é alimentada/incentivada dentro do NUPEH, onde as iniciativas e decisões são feitas pelos próprios alunos. Esta atitude, defende Professor D’assunção, é uma forma de sair da lógica cada vez mais hierarquizada da universidade, “aonde o aluno não aprende a mesma de uma forma aberta, conjunta e de, alguma maneira, interdisciplinar”. O site do grupo é www.nupeh.webs.com.

Após apresentação acerca dos grupos de estudo e pesquisa, seguiu-se a vez dos professores falarem sobre suas pesquisas e trabalhos acadêmicos variados. O primeiro a palestrar foi o Professor Manuel Rolph, que falou a respeito de sua tese de doutorado. Seu tema é relacionado com o conceito de fronteira étnica romana. A fronteira étnica, nas palavras do Professor, se define como um espaço de interações, lutas, afirmações e rejeições, sendo um processo construído pela consciência de alteridade de um grupo, que, geralmente, é embasada em narrativas míticas de origem. É a partir deste processo de fronteira que Roma construiu sua identidade étnica, dando nova significação e ressiginificação ao mundo diversificado existente ao seu redor. É, por exemplo, Roma quem dá nome aos celtas, gregos, germânicos (como é possível ver nas narrativas de Cícero ou Tácito), já que antes não havia denominações, mas meras distinções culturais para aqueles que viviam em regiões próximas.

A segunda a se apresentar deveria ser a Professora Miriam Coser, mas a mesma não pôde comparecer. Entretanto, o Professor Marcos Caldas leu sua pesquisa, que tem como tema o campo da biografia e estudos de gênero na Idade Média.

A terceira Professora a se apresentar foi Rivia Fonseca. Convidada pelos professores a integrar o Pluralitas, a professora da área de letras ministra a disciplina de línguas latinas da universidade e, com sua entrada no grupo de pesquisa, retomou estudos sobre a antiguidade. A linguista e especialista em latim clássico tem como projeto o uso de noções metodológicas da área de letras aplicadas aos estudos textuais da história, como, por exemplo, a análise de discurso, que propiciaria uma melhor compreensão de fontes de materiais historiográficos.

A quarta foi a Professora Renata Rozental Sancovsky. Ela chamou para compor a mesa o discente Vanir Júnior (ex-bolsista PIBIC/CNPq e atual FAPERJ). Representando os alunos que pesquisam em um espírito pluralitano e que também são orientados pela Professora Renata, Vanir apresentou os resumos das pesquisas dos outros pesquisadores discentes.

O primeiro projeto apresentado por Vanir foi o do aluno Caio César (6ºperíodo e monitor de História Antiga e Medieval), que fala acerca do “Corpus Mysticum e a construção do imaginário medieval de sociedade por Santa Catarina de Siena”. Para isso, Caio utiliza os Diálogos de Catarina e propõe o entendimento de aspectos particulares do imaginário social do ocidente medieval como parte da idealização de um Corpus Mysticum de Cristo.

O segundo projeto foi o da aluna Tatiane Souza (FAPERJ), intitulado como “Relações sociorreligiosas na Idade Média Hispânica, tendo como fonte as epístolas de Rabi Moshe Ben Maimon (1135-1204)”. Tatiane, além de evidenciar o “mito da convivência pacífica” entre muçulmanos e judeus no período medieval, busca estudar as produções historiográficas vigentes sobre as relações sociorreligiosas na formação do mundo ibérico - especificamente Espanha Muçulmana em contexto de Reconquista Cristã – tendo como objetivo destacar – com base no discurso de Maimônides – as possibilidades do judeu prosseguir em sua fé, mesmo sofrendo conversão forçada, política esta vigente no período de dominação Almôada/Almorávida.

O terceiro projeto foi o do aluno Samuel Felício (PIBIC/CNPq), intitulado como “Assassinato ritual e hóstia profanada: imagem e literatura clericais na construção de mitos antijudaicos juntos à Cristandade Européia – Séculos XI a XIII”, no qual o aluno tem como objetivo levantar e analisar os pensamentos e práticas que possibilitaram a construção de mitos antijudaicos no Ocidente Medieval, o que possibilitou a formação de uma representação degradante dos judeus e promoveu o antijudaismo popular.

O quarto projeto apresentado foi o do próprio Vanir Júnior (ex-PIBIC/CNPq e atual FAPERJ), intitulado como “Romanização e Cristianização da Hispania: Identidade, História e Literatura Eclesiástica – Séculos V-VII”. Trabalhando com as Histórias de Isidoro de Sevilha, Vanir tem como objetivo analisar a formação de um projeto eclesiástico no qual os escritos do bispo hispalense (retomando uma tradição literária típica de nomes como Paulo Orósio) aparecem como fundamentadores e contribuintes diretos num processo formativo de um discurso mitológico de unidade hispano-visigoda. Além disso, evidenciam a participação clerical na formação deste imaginário de poder, bem como seus objetivos no que diz respeito à conservação da fé cristã nicena em solo hispânico, através do estabelecimento de uma unidade régia.

A Professora Renata Rozental, ao discursar sobre seu projeto de pesquisa, falou que o mesmo é um estudo sobre processos discursivos referentes à polêmica judaico-cristã no período inicial da Idade Média, a partir daquilo que ela nomeou como literatura patrística polêmica, na qual é encontrada uma série de elementos anti-judaicos. Na mesma é possível identificar três discursos: o da homilética/moralizante, o narrativo/discursivo e o teatral. Sua pesquisa destaca a relação de alteridade entre judeus e cristãos no mundo tardorromano e medieval. A pesquisa se encontra em contínuo desenvolvimento.

O último a apresentar foi o Professor Luís Eduardo Lobianco. Logo no início de sua fala relatou sobre as aprovações da I Jornada do Pluralitas pelo colegiado do DHRI (Departamento de História e Relações Internacionais) e no CONSUNI/ICHS da UFRRJ, o que, nas palavras do Professor, foram grandes vitórias para o grupo. Antes de falar sobre seu trabalho, apresentou as quatro linhas de pesquisa existentes no grupo: a primeira é sobre Arte, formas de expressão e história intelectual; a segunda é poder, interações e conflitos culturais; a terceira, história social e das ideias; a quarta é economia política da religião.

A pesquisa do Professor Lobianco segue a segunda linha mencionada e é intitulada Religião, Poder e sociedade no Egito Ptolomaico e Romano. O seu objetivo é identificar as práticas religiosas do Egito Helenístico e Romano, em específico o politeísmo e o hibridismo envolvendo egípcios, gregos e romanos. O Professor Lobianco também citou outros trabalhos dos seus orientandos. Serão citados aqui alguns: “Paulo e a mulher cristã no Oriente Helenístico”, de Aparecida Conceição Azevedo; “Cultos domésticos no Antigo Egito”, de Bárbara Carina L. da Silva e o “Poder Feminino no Reino Novo. Hatshepsut e Nefertiti” de Elizabete Cristina Da Silva Chaves.


Em seguida, o Professor chamou à mesa um de seus orientados, o aluno Thiago Ribeiro. O seu tema de monografia, “Morte e Magia no Reino Novo e na época Tardia”, tem como objeto de estudo a morte e a magia no Antigo Egito, com base em questões ligadas sobretudo à cosmologia, ao monismo e ao dualismo, a partir da análise de fontes iconográficas funerárias, em especial cenas de Psicostasias, mas também textuais - Livro dos Mortos. 

Confira algumas imagens do evento:






































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