Por Leonardo Bispo Santos
Certa noite, em
uma Universidade muito bonita, localizada em um local bem distante, chovia
muito forte. Dentro da biblioteca estava ocorrendo uma algazarra generalizada,
muito barulho. Eram vozes exaltadas, pois acontecia um debate meio que não
planejado. Em uma universidade discussões acaloradas como essas costumam acontecer,
não é de se espantar, em um ambiente acadêmico, de confronto de idéias, isso é
plausível. O problema era que tudo isso acontecia em uma biblioteca e ainda por
cima a altas horas da noite.
Eram os livros.
Estavam debatendo a importância que cada um tinha ali, quais eram seus papeis
na sociedade. Isso havia começado com não se sabe qual deles, talvez tenha sido
pelo tédio causado pela chuva, mas começou com a provocação de um para o outro,
depois foi um grupo que entrou no 'papo', e quando avançaram um pouco mais,
todas as áreas do conhecimento estavam em confronto intelectual, uma guerra de
auto-afirmações.
Enquanto isso,
um livro de uma estante que ficava perto da janela, um livro de Cálculos, se
gabava de nos tempos atuais as Ciências Exatas, mas precisamente as Ciências
Contábeis, serem de suma importância para a nossa sociedade, de que “tudo é
número”, dizia ele pitagoricamente. Outro, que era irmão do último, um livro de
Lógica de Programação, ressaltava que as Exato-Contábeis sempre foram de
"suma importância", mas que os últimos sucessos eram creditados ao
avanço da Informática, da Tecnologia da Informação, ou seja, o “conceito
matemático aplicado na prática!”, exclamava o livro que foi apoiado por seu
irmão.
Cansado de ouvir
tanta prepotência, outro livro, voltando de sua viagem reflexiva para a
realidade, para "o prático", decide entrar no debate. Esse livro era
muito velho, porém mesmo assim não estava tão acabado quanto os outros que eram
mais novos, devia ser pela sua falta de uso. Ele era de Filosofia grega, um
livro de “grandes pensadores”, ele se dizia. E exercitando a sua afinada
retórica, disse ao livro de Cálculos para que também não se esquecesse de que a
Filosofia também contribuiu, de que a Matemática ganhou muito na Grécia Antiga;
“a grande Ελλάδα, que em português se diz Hélade, pois Grécia foi um
nome dado a região pelos Romanos”, ressaltou um livro de História Antiga que
não conseguiu se segurar, intrometendo-se. Concordando com seu amigo e
continuando, o escrito de filosofia, disse que sem o filosofar, o “pensar sobre
a vida”, não poderia existir a matemática. Lembrando o escrito ainda, que o "filosofar precede a matemática" e que alguns dos
grandes pensadores matemáticos como, Euclides, Arquimedes, Pitágoras, entre
outros, eram da Grécia Clássica.
Irritado com esse argumento, que de fato era bom, o livro de Cálculos atacou o papel filósofo, dizendo que, como ele o livro de Filosofia era um “deslumbre, uma reformulação e compreensão de ‘coisas antigas’ por nossos atuais”. O livro Filósofo ficou 'abismado' que "alguém das exatas" pudesse ter elaborado tal resposta e assim, novamente um livro de História se intrometeu na conversa, sendo dessa vez um de História Medieval, dizendo que concordava em parte com o livro de Cálculos, “pois muitos escritos antigos só sobreviveram e chegaram aos tempos contemporâneos através dos escribas medievais, que copiavam as obras a mão dentro de seus mosteiros.” O livro de Cálculo ainda pensou em continuar depois da interrupção, mas seu amigo de "Humanas", o livro sobre o Medievo, logo complementou sua fala. Dizia que de forma alguma estava falando que os escribas medievais somente e simplesmente copiaram e distorceram as obras, pois, continuou, “também houve formulação de conhecimento no medievo, foi lá que surgiram as universidades! A idade Média, chamada assim pejorativamente, de idade do meio, não foi uma idade das trevas como muitos livros disseram, acreditem em mim! Eu fui escrito em França!". Após esse saudoso discurso manifesto, mesmo o livro de Filosofia que estava acostumado a longas e cansativas retóricas se calou, exausto. O livro de Cálculos e outros que participavam e observavam o debate, como os livros de Administração e Educação Física, que "eram pouco dados a discussões longas" e que já conversavam sobre motivação, dieta e academia, tinham parado de prestar atenção logo no início. E com isso, pelo menos esta pequena parte da biblioteca se calou enquanto que outros ainda debatiam, continuando um grande barulho.
Irritado com esse argumento, que de fato era bom, o livro de Cálculos atacou o papel filósofo, dizendo que, como ele o livro de Filosofia era um “deslumbre, uma reformulação e compreensão de ‘coisas antigas’ por nossos atuais”. O livro Filósofo ficou 'abismado' que "alguém das exatas" pudesse ter elaborado tal resposta e assim, novamente um livro de História se intrometeu na conversa, sendo dessa vez um de História Medieval, dizendo que concordava em parte com o livro de Cálculos, “pois muitos escritos antigos só sobreviveram e chegaram aos tempos contemporâneos através dos escribas medievais, que copiavam as obras a mão dentro de seus mosteiros.” O livro de Cálculo ainda pensou em continuar depois da interrupção, mas seu amigo de "Humanas", o livro sobre o Medievo, logo complementou sua fala. Dizia que de forma alguma estava falando que os escribas medievais somente e simplesmente copiaram e distorceram as obras, pois, continuou, “também houve formulação de conhecimento no medievo, foi lá que surgiram as universidades! A idade Média, chamada assim pejorativamente, de idade do meio, não foi uma idade das trevas como muitos livros disseram, acreditem em mim! Eu fui escrito em França!". Após esse saudoso discurso manifesto, mesmo o livro de Filosofia que estava acostumado a longas e cansativas retóricas se calou, exausto. O livro de Cálculos e outros que participavam e observavam o debate, como os livros de Administração e Educação Física, que "eram pouco dados a discussões longas" e que já conversavam sobre motivação, dieta e academia, tinham parado de prestar atenção logo no início. E com isso, pelo menos esta pequena parte da biblioteca se calou enquanto que outros ainda debatiam, continuando um grande barulho.
Ao cargo de
algum tempo e por também avançar a noite, praticamente todos haviam cessado as
discussões. Agora só se ouvia um pequeno desentendimento numa estante ao fundo
do salão. Era entre livros de Zootecnia e Medicina Veterinária que ficavam
lado a lado na estante. Enquanto argumentavam, os de Veterinária dizendo serem eles
especialistas na parte
clínica e cirurgia animal enquanto que os de Zootecnia dizendo serem especialistas
em nutrição, manejo e prevenção de doenças animais, ao passo que este último tinha o apoio dos livros de Agronomia devido a uma "antiga rixa" desses com os livros de Veterinária. Nisso, um outro livro, o de Declaração Universal dos Direitos do Homem, que se encontrava na estante defronte ao corredor, disse para que parassem
a discussão, pois ele aprendeu com o seu tema que “Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e em
direitos. Dotados de razão e de consciência, devem agir uns para com os outros
em espírito de fraternidade. – artigo 1º” Ouvindo isso, os dois livros
nem deram muita bola, visto que, esse livro de Direitos do Homem havia perdido o
respeito com muitos do salão. Todos sabiam que ele estava bem ao lado do livro
da Constituição "estadunidense" de 1787, fora o fato de ele citar os “Direitos
Humanos”, que não tinha muito a ver com a realidade de livro na qual eles estavam
condicionados.
Enquanto que o livro da Constituição Americana ameaçava invadir a
estante das Ciências Animais para “salvaguardar a total garantia dos direitos do homem, da democracia e das liberdades individuais”, atestando ser ele o “farol da liberdade”, escutou-se um grande barulho
e de novo, de novo, até que parou. Alguns segundos depois o teto daquele salão
da biblioteca cedeu devido às horas de chuva forte, entrando pelo teto velho e
acabado toda a água que estava empoçada na laje devido ao entupimento do
escoamento, encharcando e destruindo praticamente todo o acervo daquele salão
da biblioteca. Não
adiantou nada, nem fino ou grosso, nem escrito por autor importante ou com
edição de luxo de capa dura, nem se era mau cuidado e muito velho e raro, todos
foram perdidos. No fim das contas eram apenas livros. *
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* Quaisquer semelhança com uma "outra" universidade também muito bonita e localizada em um ""local muito distante"", em que alguns dos tipos de discussões e falas aqui representados ocorrem (podendo elas serem representativas ou pertencendo a alguma pessoa específica), como também sobre um ocorrido nesta, em que o teto da biblioteca central cedeu devido a fortes chuvas de verão, acarretando na perda e/ou danificação de livros da mesma, são "meras coincidências" do acaso.
Imagem 1 retirada de: http://poeirab.blogspot.com/2011/05/nova-biblioteca.html
Datada do dia 28 de Julho de 2011.
Data não verificada.
Muito bom! Parabéns
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