terça-feira, 7 de junho de 2011


Por Vanir Junior



A partir do início da formação da hierarquia eclesiástica por Nicéia (325) e a oficialização do Cristianismo pelo Édito de Tessalônica (380), já em fins de Império Romano Ocidental, a Igreja se torna uma difusora ideológica, tendo influência marcante em toda a Idade Média.
Ela, a partir do século VI a.C, além da urbe, passa também a difundir o cristianismo nas áreas rurais – pela ação de monges beneditinos –, até então, espaços praticantes do paganismo. A Igreja tornava-se, assim, o arcabouço de toda aquela nova sociedade que se formava. Influenciando de reis a servos, divulgava os ideais bíblicos e a submissão a um Deus que tudo vê, que imprimia na sociedade Sua onipresença, onipotência e presciência. Deus estava em tudo e via a todos, por isso, o homem medieval deveria temer sua presença, pois em um simples ato, poderia estar pecando e assim perderia sua salvação.
Há uma crença quase inabalável em um Deus criador. Nas palavras de Jacques Le Goff, “os homens e as mulheres da Idade Média crêem no Deus do Gênesis. O mundo e a humanidade existem porque Deus quis assim, através de um ato generoso” (2003, p.p 125). A Igreja é o organismo principal de divulgação desta mentalidade, sendo a mesma difundida fortemente na população medieval.
Assim, já que Deus abarcava tudo, havia a crença na manifestação do divino em todas as coisas. Segundo Hilário Franco Jr, “o referencial de todas as coisas era o sagrado” (2001 p.p 139), valendo destacar o termo consagrado por Mircea Eliade como Hierofania, ou “manifestação do sagrado” (FRANCO Jr, Hilário 2001 p.p 139). A forma de expressão das crenças sagradas ficava evidente nas diversas peregrinações a lugares santos, como, por exemplo, Santiago de Compostela ou Jerusalém e nas Cruzadas, a partir do século XI. O simbolismo era algo natural. O símbolo servia para religar as pessoas ao mundo divino. Por isso, havia uma crença muito grande nas relíquias santas (pregos da cruz de Cristo, pedaços de sua roupa, entre outros).
Era muito comum, por exemplo, as pessoas nessa época acreditarem cegamente que fenômenos naturais como a passagem de um cometa fosse um sinal de Deus anunciando que algo ruim iria acontecer. Segundo Georges Duby “tudo que parecia um desregramento na natureza era considerado um sinal anunciando os tormentos que deviam preceder o fim do mundo” (1998, p.p 17). Não se limitando a isso, as irregularidades nas colheitas, ocasionadas por chuvas muito fortes ou por secas, também eram encaradas com flagelos divinos. Isso era resultado da divulgação das doutrinas da Igreja àquelas pessoas, que em situação de dependência da natureza – sociedades agrárias – desenvolviam estruturas mentais baseadas na crença de forças invisíveis, capazes de interferir no mundo concreto.
Fomes, epidemias e misérias eram encaradas como punições por pecados cometidos pela população, tornando-se necessário identificar os culpados. No caso do grande surto de peste na baixa idade média, judeus e leprosos foram os “pecadores” responsabilizados e acusados de envenenarem os poços. Sofreram com diversas perseguições. Duby afirma que “houve um desencadeamento de violência contra os que apareciam como os instrumentos de um Deus vingativo, que fustigava suas criaturas lançando sobre elas a doença” (1998 p.p 89).
E é claro que se seguem as escrituras como um padrão incontestável, acreditavam e temiam o Apocalipse. Os evangelhos pregam a volta de Cristo. Aguardavam este dia, mas não sabiam exatamente quando seria – o temor do ano 1000 foi criado pelo romantismo e as pessoas naquela época mal sabiam exatamente em qual ano estavam, somente um reduzido número de pessoas do clero sabia que se aproximava o ano 1000, mas a grande maioria da população não; apenas a partir do século X o calendário romano passa a ter um maior difusão. Baseavam-se no que diz o livro de Apocalipse, onde diz que ao término de 1000 anos (não sabiam quando seria o ano 1000, mas acreditavam no fim de mundo, característica do pensamento escatológico muito forte na época) satanás seria solto causando as mais diversificadas destruições, mas que seria derrotado por Jesus e em seguida viria um período de paz, antes do Juízo Final.
A Igreja tinha tamanha influência sobre as pessoas, que também delineará as posições sociais como algo divino. E todos assim acreditavam estar seguindo uma determinação de Deus ao ocupar uma posição social dentro do modelo de tripartição (clero, nobreza, servos). Segundo Adalberon de Laon, um bispo que viveu no século XI, o domínio da fé era uno, mas havia um estatuto triplicado da ordem, que era baseado na imposição de condições sociais, sendo elas os clérigos – estes estavam mais próximos de Deus do que todos os outros, os nobres – guerreiros que deviam proteger a Igreja e, por fim, os servos – deveriam, pelo suor de seus rostos, trabalhar na terra e fornecer alimentos a todos. As justificativas dessa sociedade tripartida eram baseadas na hierarquia divina Havia uma determinação dos céus à posição de cada classe. Assim como no céu não havia igualdade entre Deus e os diversos anjos, na terra era igual.
Logo, não se pode falar no período medieval sem mencionar o grande papel que teve a religiosidade difundida pela Igreja, que se utilizando da doutrina cristã, atuou como a reguladora social e possibilitou com sua influência a construção das mentalidades da população, impondo-se de forma progressiva como poderoso órgão político e religioso.

Referências Bibliográficas:

DUBY, Georges. Ano 1000 ano 2000 na pista de nossos medos. Unesp: São Paulo, 1998

FRANCO JR, Hilário. A Idade Média Nascimento do Ocidente. Edição 2ª. Brasiliense: São Paulo, 2006

LE GOFF, Jacques. Em Busca da Idade Média. Edição 3ª. Civilização Brasileira: Rio de Janeiro, 2003
Imagem retirada de: http://www.brasilescola.com/historiag/a-religiosidade-medieval.htm

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