sexta-feira, 27 de maio de 2011


Por Rafael Oliveira

Amenhotep IV (ou Amenófis IV, em uma versão helenizada), nasceu em Tebas, por volta do ano 1362 a.C. Seu reinado, como diz Gisela Chapot, "foi marcado por uma série de mudanças promovidas internamente, as quais constituíram um dos eventos mais polêmicos da história faraônica. Fosse no âmbito político, artístico, cultural ou religioso, quase todos os aspectos da sociedade egípcia passaram por abalos significativos no episódio que ficou conhecido como Reforma de Amarna".

O culto ao deus Amon se tornou o principial dentre todos os outros deuses, durante a XVIII dinastia. O Egito já havia iniciado um período imperialista, com a conquista de vários povos, e o crescimento do culto e poder do deus Amon e do clero tebano foram proporcionais ao crescimento imperial egípcio. O poder exercido pelo clero chegou a tal ponto, que eles conseguiam interferir na sucessão faraônica.

"Quando Tutmés II deixou o trono egípcio, o seu sucessor direto foi impedido de assumir a dupla coroa: os sacerdotes de Amon arquitetaram e justificaram a subida de Hatshepsut como a nova "Faraona" do Egito. Criou-se toda uma cosmologia para legitimar a sua ascensão; o próprio Amon teria participado da concepção divina da rainha. Essa participação dos sacerdotes pode demonstrar como tão grande era o poder e o prestígio do clero de Amon que, para alguns, chegava a ameaçar a posição do rei."

(Elvis Sampaio)

Mais de um século depois, com a morte de seu pai, Amenhotep III , e de seu irmão mais velho Tutmés, Amenhotep IV acabou por ser o único herdeiro do reino egípcio. Segundo Elvis Sampaio, "durante os primeiros anos de seu reinado, Amenófis IV dá continuidade ao trabalho desenvolvido pelo seu pai. Entretanto, no quarto ano de seu governo, o novo Faraó resolve tomar uma série de medidas que viriam a mudar o curso da história do antigo Egito." Cansado da influência exercida pelos sacerdotes do deus Amon, Amenhotep IV, começou a formular a sua reforma religiosa. Em seu quarto ano de governo, durante um festival heb-sed (ritual cujo objetivo era o de renovar a força do Faraó), Amenófis IV implementou mudanças que caracterizavam essa nova visão religiosa.

"O festival que deveria ser presidido por diversas divindades teve apenas uma como homenageada: o deus Aton, por meio da representação de Rá-harakhty; o deus Amon foi suprimido da celebração.[...] A partir desse momento, a figura do deus Aton foi elevada a deus dinástico do governo; a legitimidade do Faraó não se baseia mais na mitologia de Amon; foi criado um novo conceito com base na religião "atoniana"."

(Elvis Sampaio)

Foi também, durante esse festival, que o Faraó mudou seu nome. Ao invés de Amenhotep, nome que significa "Amon está satisfeito",ele passa a se chamar Akhenaton, que significa "o espírito atuante de Aton". Akhenaton ordenou o fechamento dos templos de culto para todos os deuses, e legitimou o deus Aton, o disco solar irradiante, símbolo da vida, do amor, da verdade, como único deus existente no Egito. Ele deixou Tebas, construiu uma nova capital a 300 kms ao norte da antiga, perto da cidade atual de Tell-Amarna, e denominou-a Akhetaton (Horizonte de Aton), onde foi construído o principal templo de culto ao deus Aton.

Ao contrário do que grande parte da historiografia diz, é incorreto falarmos de um monoteísmo no Egito,mas sim uma monolatria, uma vez que mesmo com a proibição de culto, e com a denominação de Aton como deus uno, a população egípcia não deixou de cultuar os "antigos deuses". A verdade é que o deus do disco solar nunca foi muito aceito fora de Amarna, e cultos aos deuses "extintos" era realizados clandestinamente com certa frequência. Uma prova disso, é que após a morte de Akhenaton (aproximadamente em 1336 a.C.), os templos de culto ao deus Aton foram destruídos, e a cidade de Amarna foi aos poucos sendo abandonada. O nome Akhenaton foi amaldiçoado, os egípcios tentaram apagar todos os registros de sua existência, e os sacerdotes de Amon voltaram a ganhar força, assim como todos os outros deuses. Tutancâmon, seu filho, tentou manter o deus Aton como único, mas acabou tendo que ceder à pressão, e retomar o politeísmo egípcio.
Referências Bibliográficas:
CHAPOT, Gisela. Akhenaton e a construção de uma cosmologia positiva durante a Reforma de Amarna (1353 – 1335 a.C.). In: http://www.ufrrj.br/graduacao/prodocencia/publicacoes/praticas-discursivas/artigos/akhenaton.pdf , consultado em 26/05/2011, às 21:13h.

SAMPAIO, ER. As divergências historiográficas sobre a reforma religiosa de Akhenaton. In: http://www.upis.br/revistamultipla/multipla25.pdf#page=9 , consultado em 27/05/2011, às 09:25h.

D`ISON, Claudine Le Tourneur. Aton, o primeiro deus único do Egito. In: http://www2.uol.com.br/historiaviva/reportagens/aton_o_primeiro_deus_unico_do_egito_2.html , consultado em 27/05/2011, às 10:42h.

SILIOTTI, Alberto. Egito, Grandes Civilizações do Passado. Editora: Folio. 2006



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