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segunda-feira, 30 de maio de 2011

O tempo para Braudel...

Por: Pérola Reis


http://www.mouro.com.br/Braudel.png
Fernand Braudel foi o protagonista da 2ª geração da Escola dos Annales. Foi autor do estudo sobre o Mediterrâneo e Felipe II, no qual é possível encontrar três formas de temporalidade diferentes: a primeira é referente a uma história quase sem tempo (homem e ambiente); já a segunda uma história das estruturas civilizacionais dos territórios banhados pelo mediterrâneo (tempo lento); a terceira uma história dos acontecimentos (tempo curto). Em tal obra enfatizou a mudança das estruturas, desejando alcançar o entendimento dos fatos em sua totalidade. Produziu um trabalho voltado para a longa duração, característica marcante da segunda geração dos Annales.
A linha de pesquisa de Braudel era baseada em tempos heterogêneos (temporalidades diferentes), sendo ela a longa duração, o tempo conjuntural e o factual. O factual estava sujeito à longa duração. Braudel teve considerável influência da Antropologia e criou uma entidade interdisciplinar, a Maison des Sciences de I’Homme, onde passou a ter contato com intelectuais, como Pierre Bourdieu e Claude Lévi Strauss. Tal contato com a Antropologia pôde promover, por parte de Braudel, um trabalho voltado para o estruturalismo.
Afirmando a crise das Ciências do Homem, que, segundo o mesmo, são meras acumulações de novos conhecimentos e estão esmagadas sob seus próprios progressos, pregava a completa união de tais ciências, mas destacando a utilidade da história em relação às outras. Para Braudel, a história estaria no centro de todas as ciências sociais e, por isso, era mais importante, sendo capaz de tratar do passado e da atualidade sendo esta, para Braudel, a fórmula da história indispensável a todas às ciências sociais, pois englobava as múltiplas temporalidades.

As durações:

Para Braudel, o tempo curto representava o tempo dos eventos. Fala do evento como algo explosivo, que enche a consciência das pessoas, mas que, ao mesmo tempo, não dura. A visão de Braudel com relação ao tempo curto era contrária a dos filósofos, que, baseados em uma série de significações, atribuem ao evento um tempo muito maior do que sua verdadeira duração. Falam do evento como sendo apenas uma parte que se anexa, que se liga – ou não – a toda uma série de acontecimentos.
Para o historiador, o evento significa o tempo curto, afirmando que tal tempo existe em vários âmbitos: social, econômico, religioso, geográfico, entre outros. Foi esta a principal característica da história política (ocorrencial, factual, baseada praticamente só no documento) do século XIX, que foi criticada não só pela primeira geração dos Annales, mas também por Braudel na segunda geração.
Ele enfatiza assim a passagem do foco da produção da história política para a produção da história econômica e social, permitindo estas últimas, conforme sua visão, uma análise muito mais ampla do que a primeira. Isso por que:

“Ontem, um dia, um ano podiam parecer boas medidas para um historiador político. Mas, uma curva dos preços, uma progressão demográfica, o movimento dos salários...reclamam medidas muito mais amplas.” (p.p 47).

Temos a forma de abordagem histórica recitativa estrutural. Assim chegamos ao Tempo Lento (longa duração). Passa-se, assim, à análise da mudança pelo tempo lento no econômico e social, dando grande ênfase ao aspecto da quantificação (Ernest Labrousse). Tal aspecto ajudará na elaboração de análises de temporalidades dentro da própria história econômica, buscando aplicação social, como, por exemplo, preços que sobem em um determinado período e que baixam em outro.
Como o aspecto mais estrutural para os historiadores, segundo Braudel, é algo que se veicula muito lentamente (ao contrário do pensamento de Strauss, que considera as estruturas invariáveis; por isso Braudel, mesmo utilizando-se de tal modelo, o estrutural, aplica a temporalidade da história, dizendo que, mesmo que muito lentamente, as estruturas se modificam), tais aspectos são as prisões de longa duração, porque são onde o homem está enraizado. Elementos estáveis como os quadros mentais e mais ainda a coerção geográfica. Pode-se perceber as durações da história propostas por Braudel, mas não separadas e, sim, solidárias.

Crítica ao tempo curto:

Como é possível perceber no livro “Escritos Sobre a História”, Braudel critica em sua linha teórica as ciências sociais. Diz que fogem à explicação histórica por “fatualizar” excessivamente seus estudos, através de um método totalmente empírico e se limita ao tempo curto e atual, não havendo uma investigação do todo.
E mesmo que diga que o pecado fatualista é comum a todas às ciências sociais, geografia, economia, demografia e também à história, enfatiza que o historiador tem facilidade para destacar o essencial de uma época passada.

“Duvido que a fotografia sociológica do presente seja mais “verdadeira” que o quadro histórico do passado, e tanto menos quanto mais afastada do reconstruído ela quiser estar.” (p.p 57).

                Braudel chega a falar das diferenças entre o tempo do historiador e o tempo do sociólogo. Para ele, o historiador passaria do tempo curto ao longo e depois ao muito longo, proporcionando uma análise aprofundada, dentro daquilo que Braudel chama de história inconsciente (que ultrapassa a simples superficialidade dos eventos). Já o sociólogo estaria mais voltado apenas para análise particular, não dando ênfase ao todo.
Sendo assim, segundo o pensamento Braudeliano, a história lidaria muito melhor com a temporalidade do que a sociologia e as demais ciências sociais, proporcionado uma análise completa e aprofundada. Por isso, ela seria superior às outras ciências. Isso se torna mais evidente a partir dos diálogos com Levi-Strauss. 
Há, deste modo, a reaproximação e, ao mesmo tempo, a disputa e críticas entre a história e as outras ciências sociais no contexto pós-guerra. São justamente estes diálogos e críticas que levarão Braudel a uma abordagem mais estrutural, típica da antropologia. Isso proporcionou a formulação de uma linha de pensamento dos Annales na 2ª geração: noção precisa da multiplicidade do tempo e grande valorização da longa duração.


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BRAUDEL, Fernand. Escritos sobre a história. Editora Perspectiva: São Paulo, 1978
BURKE, Peter. A Escola dos Annales 1929-1989: A Revolução Francesa da Historiografia. 2ª Edição. UNESP: São Paulo, 1992
DOSSE, François. A História em Migalhas. Dos Annales à Nova História. UNICAMP: São Paulo, 1992.

5 comentários:

  1. Parabéns pelo artigo, Pérola. É isso mesmo, dedicação. Precisamos de BONS artigos e o SEU, sem dúvida, é um deles. Muito esclarecedor. =)
    Mais uma vez parabéns e faça SEMPRE a DIFERENÇA no BLOG com artigos assim. Gostei muito!!!

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  2. MUITO QUE BEM! Só achei que deveria falar mais do debate com o strauss.

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  3. Incrível!!!gostei muito da explicação.

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